Povo Munduruku se posiciona contra projetos hidrelétricos, Por Sue Branford e Nick Terdre
Posted: September 15th, 2014 | Author: Amazônia em Chamas | Filed under: Geral | Comments Off on Povo Munduruku se posiciona contra projetos hidrelétricos, Por Sue Branford e Nick Terdre‘Povo Munduruku se posiciona contra projetos hidrelétricos’ Por Sue Branford e Nick Terdre para a BBC Website
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“Se essas hidrelétricas forem construídas, tudo vai acabar” disse Lamberto Painha,um dos caciques do povo Munduruku.” “Aquela vila ali vai ficar inundada,” ele diz. “Macacos, pássaros, índios- todos perderemos nossas casas.” Nos últimos meses, 13.000 índios Munduruku têm protestado contra o plano do governo de construir diversas hidrelétricas que irão inundar parte de suas terras na região do Rio Tapajós.Após uma semana de reuniões em abril, os caciques de mais de 60 aldeias emitiram uma declaração exigindo que o governo lhes ouça antes de dar continuidade às obras das cinco hidrelétricas planejadas para o rio. As mulheres das aldeias não são tradicionalmente guerreiras, mas agora participam da luta. Maria Leusa Kaba Munduruku, uma das lídereres das guerreiras diz que todo mundo precisa estar envolvido. “O governoprecisa reconhecer nossos direitos também, não só os direitos dos outros,” disse Leusa.
Riqueza biológica Apesar da enorme resistência por parte das tribos indígenas e dos ambientalistas, as obras da gigantesca hidrelétrica Belo Monte, no Rio Xingu continuam avançando. Agora a nova fronteira para a expansão das hidrelétricas brasileiras está no Rio Tapajós- grande afluente do Rio Amazonas que fica mais a oeste.
A oposição às hidrelétricas no Rio Tapajós é ainda maior, já que a biodiversidade nessa região é uma das mais ricas do mundo. Adrian Barnett, um biólogo britânico que trabalha na área, diz que – mesmo para os padrões elevados da bacia amazônica – o Tapajós é uma área de extrema riqueza biológica. Das 1.837 espécies de aves brasileiras, 613 podem ser encontradas no Tapajós. O governo pretende leiloar a primeira hidrelétrica, São Luiz do Tapajós, ainda esse ano. Juntamente com a próxima hidrelétrica, Jatobá, deve ser ativada em 2020. Assim como o alagamento de 552km de terra, as barragens vão mudar o fluxo do rio, prejudicando assim a vida dos índios e de diversas comunidades de pescadores. As hidrelétricas terão capacidade de 8.471 megawatts e irão gerar tanta eletricidade quanto a Belo Monte. Sem sentido Para diminuir o impacto ambiental, o governo está copiando o sistema de plataforma de petróleo usado no Mar do Norte. Ao invés de construir mais estradas eles estão trazendo os trabalhadores em barcos para turnos de duas semanas. As autoridades insistem que precisam explorar o enorme potencial hidrelétrico da Amazônia para que o Brasil tenha energia suficiente para alimentar seu ambicioso programa de desenvolvimento. Claudio Salles, diretor do Instituto Acende Brasil, diz que dos 19.000 megawatts adicionais que o governo pretende ter até 2021, 16 mil serão gerados na Amazônia. “Isso te dá uma ideia do tanto que a energia é importante para nós,” disse o diretor. Mas alguns analistas acreditam que o Brasil precisa repensar seus planos de desenvolvimento. Célio Bermann, professor de energia e meio ambiente da Universidade de São Paulo, diz que o Brasil está fornecendo grandes subsídios para os setores que precisam de energia elétrica, como a fundição de bauxita na Amazônia, para a produção de alumínio, sem pensar se isto é realmente interessante a longo prazo para o país. “Estamos exportando uma tonelada de alumínio por $1.450-1.500 enquanto a importação de alumínio fabricado é o dobro do preço.” “Não faz sentido, acho absolutamente desnecessário para o país que a produção de alumínio dobre nos próximos dez anos,” ele acrescenta. O professor também ressalta que o Brasil voltará a ser produtor de bens primários, sem agregação de valor. “É precisamente a produção de bens primários que usa muita energia e gera poucos empregos.” Desejo de evoluir Os trabalhos preparatórios para a construção da hidrelétrica de Teles Pires, que será construída no Rio Teles Pires, afluente do Tapajós, já resultam no desmatamento da região ao redor das Sete Quedas (Sete Cachoeiras) – uma área considerada sagrada pelos Munduruku e outros povos indígenas. Em carta aberta, os caciques Munduruku se queixaram: “Há urnas funerárias lá, onde os nossos antigos guerreiros estão enterrados. Há também um portal, só visto por pajés e líderes espirituais, que podem viajar através dele para um outro mundo, desconhecido.” “Por que eles destruíram isso?” um cacique perguntou. No entanto, para outras pessoas o progresso não pode ser adiado. João Francisco Veira, vereador da cidade de Jacareacanga, disse à BBC: “Os índios não querem voltar 300 anos. Eles querem evoluir, assim como o rio corre para o mar. Eles querem celular. Eles querem internet.” Maria Leusa Kaba Munduruku concorda que querem se modernizar. “Queremos isso mas conservando nossa cultura. Isso é possível e vamos lutar por isso.”
Fotos: Mauricio Torres Video: Nayana Fernandez Tradução: Maria Pacheco Fernandes