Mundurukus vão à Belém apresentar Carta ao povo e ao governo Brasileiro: “O rastro do tempo aponta o caminho do futuro: somos a nação munduruku, os cortadores de cabeça.”

Posted: April 16th, 2016 | Author: | Filed under: Geral, Mundurukania, Notícias Inflamáveis, vídeos | Comments Off on Mundurukus vão à Belém apresentar Carta ao povo e ao governo Brasileiro: “O rastro do tempo aponta o caminho do futuro: somos a nação munduruku, os cortadores de cabeça.”

Carta lida por João de Deus Munduruku:

 

Maria Leusa Munduruku lê Carta na lingua Munduruku:

 

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Na manhã da quinta feira (14),  dois representantes do povo Munduruku, Maria Leuza Kaba Munduruku e João de Deus Kaba Munduruku, estiveram no auditório do Ministério Público Federal para registrar a carta, resultado da Assembléia Geral da nação Munduruku no Pará, que ocorreu entre os dias 01 e 07 de abril de 2016, na Aldeia Katõ, municipio de Jacareacanga, alto Tapajós. A carta intitulada: ” O rastro do tempo aponta o caminho do futuro: somos a nação Munduruku, os cortadores de cabeça.” tem como objetivo apresentar ao povo e ao governo Brasileiro a série de inconstitucionalidades e desrespeitos que acontecem – e estão prestes a se intensificar – no rio Tapajós e com os povos indigenas.

A carta é um aviso que fala sobre o etnocidio em curso contra os povos indigenas no Brasil; a destruição da Amazônia por conta de grandes projetos; formas de resistência frente aos planos do governo pra região e também a cosmologia e luta Munduruku. ” Os caciques sentem muita pressão, sentimos muita pressão do governo para que aceite as hidrelétricas, ameaçando até… Assim como Belo monte”, diz Maria Leuza Kaba Munduruku sobre as investidas do governo.

Esta carta foi construída durante 05 vastos dias de discussão em uma assembléia geral com forte representatividade Munduruku, estando presente caciques de 130 aldeias e tendo sido, prioritariamente, falada na língua Munduruku, é o que nos informa os representantes do movimento Munduruku e representantes do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, um dos poucos grupos de Pariwati (brancos) presentes na assembléia.

O objetivo essencial de apresentar e difundir esta carta é “Mostrar a mensagem Munduruku ao povo Brasileiro”, explica Leuza, que comenta que o povo Munduruku já foi para diversos espaços fora do Brasil, tendo sido ouvidos por várias entidades de direitos humanos ao redor do mundo, mas que ainda não sentem seu grito ecoar verdadeiramente no território Brasileiro onde residem. Ela nos faz um apelo, para todos os movimentos populares que estão na luta, Quilombolas, pescadores, Campesinos sem terra, estudantes, mulheres, trabalhadores explorados, e tantos outros, bem como a todxs as pessoas em solidáriedade, para que reverberem essa mensagem.

 

Leia a carta da 26ª Assembléia Munduruku O rastro do tempo aponta o caminho do futuro: somos a nação Munduruku, os cortadores de cabeça

 

 

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Povo Munduruku luta para que Belo Monte não volte a se repetir: a autodemarcação continua!

Posted: August 24th, 2015 | Author: | Filed under: Mundurukania, vídeos | Tags: , , , , , | Comments Off on Povo Munduruku luta para que Belo Monte não volte a se repetir: a autodemarcação continua!

Publicado em Autodemarcação no Tapajós

Assista o vídeo aqui:

Povo Munduruku luta para que Belo Monte não volte a se repetir: a autodemarcação continua!

No ato de tornar aparente a linha imaginária que delimita seu território, os Munduruku tentam escapar da invisibilidade que está sendo imposta pelo governo demarcando por conta própria seu território.

A autodemarcação da TI Sawre Muybu, que começou em outubro de 2014, continua avançando a trincheira contra as hidrelétricas planejadas na bacia do Tapajós. Uma forma de exigir reconhecimento não apenas de seu território, como de seus direitos, que nesse momento estão sendo atacados pelo atual Congresso que busca esvaziar os direitos dos povos das florestas, como a PEC 215.
Desde setembro de 2013 os Munduruku aguardam a Fundação Nacional do Índio (Funai) publicar o Relatório Circunstanciado que reconhece o vínculo histórico que eles têm com essa terra. Para todo o povo Munduruku, Daje Kapap Eipi, é uma terra sagrada que lhes foi dada pelo Deus Karosakaybu, criador dos animais e do rio Tapajós. Para o governo, um entrave na sua política desenvolvimentista de destruição e morte.
O relatório está parado em Brasília por impedimento de arranjo interno do governo, como já declarou a ex-presidente interina da Funai Maria Augusta Assirati. Se a Funai publicar pode inviabilizar a usina de São Luiz do Tapajós porque o alagamento previsto incide em grande parte da terra indígena Sawre Muybu(território Daje Kapap eipi). Como a remoção de indígenas é proibida pelo artigo 231 da Constituição, o governo não demarca para alegar que a TI nunca foi reconhecida oficialmente.
A Justiça Federal de Itaituba, a pedido do Ministério Público Federal, está multando a Funai por descumprir a ordem de seguir a demarcação da TI Sawre Muybu. Desde 6 de agosto de 2015 a Funai está intimada a pagar multa de R$3 mil por dia por não cumprira sentença judicial de que a demarcação deve prosseguir. Para a Justiça, a Funai alega que não há disponibilidade orçamentária para demarcações na região amazônica.
Enquanto o governo finge que Sawre Muybu não existe, é conveniente permitir que grupos madeireiros, palmiteiros e garimpeiros sigam ameaçando os índios e explorando ilegalmente o território sem nenhuma fiscalização. Durante a autodemarcação os Munduruku relatam a destruição que estão encontrando.
Cansados de esperar, como forma de pressionar a Funai, no encerramento da 1ª Conferência Regional de Política Indigenista, que aconteceu em Santarém entre os dias 15 e 17 de agosto, o Movimento Indígena do Baixo Tapajós com apoio dos Munduruku do médio e Movimento Ipereg Ayu do alto Tapajós, impediram que dois servidores de Brasília e uma representante do Ministério da Justiça que participavam do evento fossem embora. Os três permaneceram no Centro Indígena Maíra, mas por motivos de saúde a representante da Justiça foi liberada.
Por telefone os indígenas negociaram com João Pedro Gonçalves da Costa, novo presidente da Funai, amazonense, aliado com as políticas do PAC. As exigências para liberar os servidores dependia da publicação dos relatórios da TI Sawre Muybu e da TI Cobra Grande, construída de três povos: Arapiun, Tapajo e Jaraki, eles também exigiram uma audiência com o atual presidente, para cobrar que a Funai cumpra seu compromisso institucional com os povos indígenas e atue com autonomia pelos interesses originários do orgão público.
João Pedro garantiu a ida de 25 delegados à Brasília, num prazo de 10 dias, mas não firmou resposta sobre a publicação dos relatórios circunstanciados das terras indígenas alegando estar no cargo a pouco mais de 60 dias e ainda se inteirando das disputas territoriais apresentadas pelos indígenas.
Podemos compreender esse jogo político como uma forma de extermínio. Com Belo Monte o governo nos mostra até onde é capaz de ir, desrespeitando leis e suspendendo direitos, em nome do lucro da parceria público e privado. Nos prova que é capaz de promover catástrofes irreversíveis aos povos indígenas e ao meio ambiente em nome do “desenvolvimento”.
Assista o vídeo da segunda etapa da autodemarcação do território Munduruku. Por instinto de sobrevivência, a luta continua!


Autodemarcação no Tapajós é a resposta aos grandes projetos Hidrelétricos para região

Posted: November 13th, 2014 | Author: | Filed under: Mundurukania | Comments Off on Autodemarcação no Tapajós é a resposta aos grandes projetos Hidrelétricos para região

Cansados, após 13 anos de espera pela Fundação Nacional do Índio (Funai), indígenas da etnia Munduruku iniciaram a autodemarcação da terra indígena Sawré Muybu, localizada nos municípios de Itaituba e Trairão, oeste do Pará.  O local fica a poucos quilômetros da área prevista para a construção da usina de São Luiz do Tapajós, de 8.040 megawatts.

Com facões, enxadas e auxílio de GPS, adentraram a mata fechada, fincando picos nos principais limites da TI. De forma independente, cercam o território historicamente ocupado pela etnia.

Para dar visibilidade a essa luta tão custosa dos Munduruku, construímos um espaço especial sobre o assunto. Na página Autodemarcação no Tapajós publicaremos conteúdos (textos,vídeos, áudios e fotos) sobre a saga de um povo pelo direito de permanecer na sua terra.

A primeira matéria do blog apresenta a resposta de Ademir Kaba, professor, sociólogo e liderança Munduruku do Movimento Ipereg Ayu, à afirmação leviana do Chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho – responsável pela ponte entre o Planalto e os movimentos sociais. Em entrevista para a BBC, o ministro disse que existe uma equipe do governo na região tentando implementar a Convenção 169, mas há sabotagem por parte de entidades para que isso não aconteça.  Ademir o desmente. Para ler entrevista e matéria: “Ele é um canalha”- Liderança Munduruku responde a entrevista de Gilberto Carvalho

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Entenda mais

O Relatório Circunstanciado Integrado da terra indígena está pronto desde setembro de 2013 e deveria ter sido publicado no Diário Oficial da União para a continuidade no processo de demarcação, o que não aconteceu.  Estava NA MESA da ex-presidente da Funai, pronto para homologação, mas não foi assinado.

Em setembro deste ano a presidente da Funai se reuniu com lideranças do alto e médio Tapajós em Brasília. Como pauta da reunião estava a demarcação da terra indígena Sawré Muyby. Maria Augusta disse com todas as palavras aos indígenas que a publicação do relatório ainda não aconteceu porque o lugar fica  “localizado em uma área de empreendimentos” e a  Funai junto com outros Ministérios estaria estudando formas de conciliar a demarcação com os empreendimentos hidrelétricos na região.

A conciliação é inviável para os indígenas: “Como que o governo faz barragem e quer dizer que não vai chegar na gente aqui? Estamos demarcando nossa terra aqui. Vamos até o fim da autodemarcação. A gente quer a nossa terra demarcada. A gente não quer barragem”, afirma Juarez Saw, cacique da aldeia Sawré Muybu.
Maria Augusta prometeu que voltaria a se reunir no final de outubro para dar retorno sobre a publicação do relatório aos indígenas, mas abandonou o cargo antes disso sem se manifestar sobre a demarcação.

Devido à morosidade, os indígenas se reuniram e decidiram por conta própria colocar limites no território. “Já é tempo demais de espera pela Funai. A gente sabe que se depender deles essa demarcação não vai sair por causa dessa barragem aí. Então tem que ser nós mesmo”.
A autodemarcação segue sem data para acabar.

familias colaboram com mandioca para fazer farinha e manter autodemarcacao

 

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Governo continua apressadamente projeto de chacina no Rio Tapajós.

Posted: August 5th, 2014 | Author: | Filed under: Geral, Mundurukania | Comments Off on Governo continua apressadamente projeto de chacina no Rio Tapajós.

Em uma página do governo federal, uma reunião para consulta prévia está sendo chamada para discutir, como diz no texto,  os ‘possíveis’ projetos de empreendimentos na região. O texto no documento é o seguinte:

“O governo federal, através da Secretaria-Geral da Presidência da República, realiza nos dias 2 e 3/9, na aldeia Praia do Mangue, município de Itaituba (Pará), reunião com representantes de entidades, aldeias e lideranças do povo Munduruku.  O objetivo é apresentar a proposta de consulta aos povos indígenas que vivem na bacia do rio Tapajós sobre possíveis projetos de empreendimentos na região.

Na ocasião será definida a forma que a consulta deve ser realizada, conforme a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de acordo com decisão da Justiça Federal de Santarém (PA).  A iniciativa do governo federal visa pactuar um processo que possibilite ampla informação e participação das comunidades  que possam ser, direta ou indiretamente, impactadas pelos empreendimentos.”

Aqui está o  link.

Esta consulta pública será voltada apenas para área de duas hidrelétricas no plano inicial do complexo Tapajós: São Luiz do Tapajós e Jatobá.  A palavra consulta já perdeu o seu significado original, pois, como todos sabem, na região os estudos, planos e acordos para mais este ’empreendimento’ na Amazônia já vem acontecendo a mais de dois anos, como podemos perceber nas reportagens do portal IHU abaixo:

Em silêncio, governo começa a tocar usina no Rio Tapajós.

Povos do Tapajós apelam ao STF e ao congresso pela reprovação de MP que diminui unidades de conservação no Pará.

O convite, em seu segundo parágrafo, deixa essa situação bem clara, quando não mostra mais saída nem capacidade de veto, no trecho: “A iniciativa do governo federal visa pactuar um processo que possibilite ampla informação e participação das comunidades  que possam ser, direta ou indiretamente, impactadas pelos empreendimentos.” Já apresenta como certo o empreendimento do governo antes de uma decisiva consulta.

Consultas prévias falsas que impõem e ajudam na invisibilização da resistência que há na região?! Permanente processo de imposição de saberes eurocêntricos sobre desenvolvimento, progresso e gestão sobre comunidades que não dependem deste sistema e que se vêm argoladas e sem saída. Pela autonomia da construção destas consultas pelos povos que habitam o Tapajós e serão diretamente afetados na construção de mais algumas UHE’s da morte na Amazônia.

Para saber mais sobre a resistência Munduruku contra os projetos de barragem no rio tapajós, veja em nossa página: Mundurukus x UHES>> Mapeamento (em) processo.

 

Restinga- território Munduruku

 

 


No Pará, indígenas apreendem máquinas e expulsam garimpeiros

Posted: February 5th, 2014 | Author: | Filed under: Geral, Mundurukania | Comments Off on No Pará, indígenas apreendem máquinas e expulsam garimpeiros

Por Larissa Saud

Fotos por Adailton Paihun-

publicado também no Blog da Amazônia

Ameaçados de morte, munduruku expulsaram garimpeiros de terra indígena no extremo oeste do Pará

A noite mal havia chegado quando índios da etnia Munduruku atracaram na ribanceira de um garimpo localizado no Rio das Tropas, afluente do Rio Tapajós, na região oeste do Pará. Das cinco voadeiras, todas lotadas, saíram guerreiros, guerreiras e crianças, todos com um objetivo: expulsar garimpeiros ilegais da terra dos Munduruku.

Logo na entrada do barracão, os indígenas depararam-se com dois dos 12 garimpeiros presentes no local. Pintados para guerra, os Munduruku foram firmes.

– Vocês tem dez minutos para ir embora. Pega as coisas de vocês, vão embora e não voltem mais. Isso aqui é terra dos Munduruku – ordenou Paigomuyatpu, chefe dos guerreiros, enquanto os garimpeiros arrumavam as mochilas e se preparavam para abandonar a área.

Segundo os trabalhadores presentes no garimpo, os quatro pares de dragas, modelos MWM de 3 e 4 cilindros, utilizados para extração de ouro, pertencem a Alexandre Martins.

Conhecido como Tubaína, Martins também é dono de pelo menos mais dois garimpos na região, e deixara o local três dias antes da operação, exatamente quando os Munduruku iniciaram a vistoria na bacia do Tapajós.

– Ele [Tubaína] disse que ia lá pro outro barraco dele. Ele não tá lá, não tá aqui. Ninguém sabe – afirmou Mara Almeida, que cozinhava nos barracos para os garimpeiros de Tubaína.   A ação se deu após inúmeras denúncias protocoladas em órgãos governamentais. Ozimar Dace, Munduruku membro do movimento e relator da operação, contou que os indígenas já haviam tentado retirar os pariwat (não indígenas) do território por meio do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Fundação Nacional do Índio (Funai).

– A gente decidiu que essas autoridades nunca ia dar resultado pra gente. Eles nunca iam fazer isso pra gente poder viver sossegado. Eles davam o prazo de que eles iam dar resultado, mas isso nunca saiu. Então, por esses motivos, a gente decidiu resolver por conta própria.

A exploração ilegal de garimpo dentro da terra indígena Munduruku é antiga. Relatos remontam o início dessas atividades à década 1980. Uma história de ameaças, acordos com um pequeno grupo de lideranças e exploração da mão de obra indígena tecem uma teia que não beneficia a maioria do povo.

Segundo as comunidades locais, os garimpeiros têm causado vários problemas nas terras indígenas devido à exploração descontrolada. Poluição do rio, falta de peixes, desentendimentos e ameaças são os principais motivos apontados  como estopim. Por essas razões, os indígenas estariam “tirando garimpeiros e tomando os seus maquinários”, explica Paigomuyatpu, chefe dos guerreiros Munduruku.

– Os garimpeiros já fizeram prejuízos demais no nosso território. Estamos evitando problemas, doenças e muitas coisas que estão acontecendo. A gente tá evitando isso aí pra nossa futura geração – acrescentou.

Parte do grupo de garimpeiros expulso pelos indígenas

A fiscalização começou no dia 15 deste mês, durou quase vinte dias, e passou por vários afluentes da bacia do rio Tapajós, como Rio das Tropas, Kaburuá, Kadiriri e Kabitutu. No total, os Munduruku confiscaram doze dragas, que ficarão paradas por um mês nas aldeias, quando os indígenas decidirão o que fazer.

– Em relação aos garimpos, vai ficar parado. Depois vai passar um mês e a gente vai decidir o que vai fazer com o maquinário: se fazemos projetos para beneficiar a comunidade nas áreas onde já estão as máquinas. Mas nós precisamos de projetos alternativos de geração de renda para a comunidade, como criação de peixe, produção de farinha, extração de castanha, copaíba e mel. Precisamos do apoio da Funai  – afirmou Paigomuyatpu.

Pressionada pelos Munduruku, a Funai apoiou a ação autônoma dos indígenas, financiando o combustível para as embarcações.

– Foi uma demanda deles, veio de uma pressão. Eles queriam de qualquer forma que isso acontecesse. A gente acha que tendo uma iniciativa que parta deles é até melhor, para que eles se entendam com os parentes e decidim que não vão mais permitir a entrada de garimpeiros – comentou Juliana Araújo, da coordenação da Funai de Itaituba.

De acordo com Juliana, desde quando chegou à região, em 2010, a Funai recebe denúncias dos munduruku sobre o garimpo ilegal na terra indígena. Em outubro do ano passado as denúncias foram reiteradas e encaminhadas para o ICMBio e Polícia Federal. Em 2012, uma operação na região teve efeito provisório porque depois houve o retorno dos garimpeiros. Por causa disso, foi sugerido à Funai trabalhar a conscientização dentro do plano de gestão.

– Não adianta só fazer a operação e depois alguns índigenas autorizam a entrada dos garimpeiros. A gente resolveu tomar um pouco mais de cuidado com isso. Tanto nós quanto o ICMBio, estamos com dificuldade pessoal. Tem só uma pessoa que é responsável por uma série de unidades Quando a gente vai fazer uma operação de monitoramento, tentamos chamar servidores de outros lugares,  porque os servidores locais acabam sendo alvo dos garimpeiros.

O clima é tenso na região. Comunicando-se através de rádios, as lideranças descobriram que estão sendo perseguidas. Há uma lista com pelo menos cinco nomes de líderes indígenas marcados para morrer. O autor das ameaças seria Tubaína. Segundo um guerreiro Munduruku, ele comanda um grupo de pistoleiros com armas automáticas 765.

– Tubaína é temido na região e anda com rifle na mão direto dentro da aldeia, ninguém fala nada. Eu falei: ó, dentro da terra indígena, somente a Polícia Federal e a Funai e se for autorizado ainda pra andar armado – relatou Valmar Kaba.   Além das lideranças, Tubaína também teria ameaçado o cacique da aldeia Posto de Vigilância (PV), Oswaldo Waro, e seu filho, João Waro. No último dia 19, os dois fecharam a pista de pouso da aldeia com galhos, paus e pedras para evitar que o garimpeiro retirasse as máquinas apreendidas.

– O Tubaína passou o rádio pro cacique e disse que quando o Oswaldo fosse pro trabalho dele, lá no Bananal, o Tubaina ia pegar ele e o filho dele – contou a indígena Leuza Kaba.   Um dos trabalhadores expulsos pelos Munduruku, conhecido como Baixinho, informou que os garimpeiros de Humaitá e do km 180 da Transamazônica estariam planejando ir ao Tapajós para “se acertar” com os indígenas.  Baixinho não revela seu nome verdadeiro. É franquizino e tem a fala mansa. Em uma mesa de bar, conta que há 14 anos, desde quando foi abandonado pela mulher, vive do garimpo.

– Só aqui na região trabalho há seis anos. O povo conta muita mentira sobre os garimpeiros. Falam muito do Tubaína, mas ele é uma pessoa boa e ajuda todo mundo- disse.

Ele se despediu dizendo que ainda vai voltar para tirar ouro dentro da área indígena. Alguns conhecidos contaram que Baixinho saiu do presídio há dois meses, que esteve preso por ter matado um homem a facadas em um garimpo próximo à aldeia Catõn, dentro da área indígena.

– E matou outro com um tiro de .20 bem aqui, nessa rua – diz um dos conhecidos dele.   A reportagem não conseguiu fazer contato com Tubaína. Na sexta-feira (31), lideranças indígenas registraram na delegacia de Jacareacanga um boletim de ocorrência denunciando as ameaças do dono de garimpo e informaram a situação ao Ministério Público Federal.

Carta

Em carta, os indígenas dizem que não temem as ameaças de morte e que continuarão lutando por seus direitos.

“Carta VI – Carta do Movimento Munduruku Iperêg Ayû

  Nós, caciques, lideranças e os guerreiros (as), viemos através desta cumprimentar os senhores e as senhoras. Aqueles e as aquelas que apoiam o nosso Movimento Munduruku Iperêg Ayû.

Nós, guerreiros (as), fizemos a nossa fiscalização do nosso território. Tiramos e expulsamos os garimpeiros invasores do nosso território e apreendemos os seus maquinários. Agora eles estão;nos ameaçando de morte, mas nós não nos intimidamos.

Esse é o primeiro passo. Vamos defender até o fim o nosso território, nosso rio, a nossa floresta, nossas riquezas e nosso povo. Essa é a nossa palavra. Finalizamos esta carta com muita paz e amizade. Sawe! Sawe! Sawe!   Atenciosamente, Movimento Munduruku Aperêg Ayû.   Aldeia Caroçal, Rio das Tropas, no Município de Jacareacanga, Oeste do Pará

Danos do garimpo dentro da terra indígena

 

Danos do garimpo dentro da terra indígena


Nota de Apoio do Movimento MUNDURUKU IPẼRẼǦAYŨ aos Movimentos de Lutas das Manifestações nas Ruas

Posted: September 19th, 2013 | Author: | Filed under: Mundurukania | Comments Off on Nota de Apoio do Movimento MUNDURUKU IPẼRẼǦAYŨ aos Movimentos de Lutas das Manifestações nas Ruas

No dia 18 de setembro, um grupo de movimentos e espaços ativistas lançou uma nota de Apoio ao povo Munduruku que resiste bravamente contra os desmandos do estado perante seus territórios, com ideais genocidas sobre desenvolvimento. Hoje, 19 de setembro de 2013 recebemos uma nota de resposta do Movimento MUNDURUKU IPẼRẼǦAYŨ, que além de criar uma interação nos motiva a resistir e a lutar cotidianamente com força e plenitude.

Nota de Apoio aos Movimentos de Lutas das Manifestações nas Ruas!

Meus bravos guerreiros destemidos que estão nas ruas lutando com coragem contra capital. Não se emudeçam, sejam firmes, superem todas as opressões, discriminações, e todas as espécies de difamações , sejam teimosos, persistam, perseverem, deixem que suas lagrimas sejam derramadas. Mesmo que os sangues sejam derramados e ainda que sejam tiradas suas vidas, mas o tempo levará suas vozes a um lugar mais remoto do mundo que é o tempo e a historia o vento não deixará apagar e não calará suas vozes.
Nós Munduruku estamos admirados pelas atitudes que iniciaram depois da nossa manifestação no rio Xingu. Damos graças a todos os movimentos que se manifestaram mostraram suas indignações nas ruas, em todos setores sociais e de todas as classes sociais existentes. Estamos com vocês!
SAWEEEE! Esse é o nosso grito de guerra da liberdade!

MOVIMENTO MUNDURUKU IPẼRẼǦAYŨ

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Nota de apoio ao povo Munduruku

Das ruas em revolta, dos mascarados que não se ajoelham perante a repressão que segue, dos negros e negras maloqueiras que reagem contra o racismo, dos renegados que não se envergam na luta contra o capital, das favelas que teimam em não se emudecer ao som da bala, das mulheres que sobejam coragem e dizem não! ao machismo, das trans e homossexuais que resistem com punhos em riste por respeito, de todos os povos e pessoas que gritam em peito aberto pela Liberdade, daqueles que não querem o dia terminado até que caia a última das opressões: o nosso irrestrito apoio e as nossas saudações ao povo Munduruku.

Estamos a postos!

. Que saiam as Forças Armadas do território Munduruku.

. Que parem as pesquisas de EIA na região.

. Que parem as construções de hidrelétricas.

. Que se ouçam os Munduruku e que se respeitem as suas decisões acerca do seu próprio destino

ASSINAM:

– Das Lutas – RJ/Campanha Reaja ou será morta, Reaja ou será morto – BA/Quilombo Xis – Ação Cultural Comunitária – BA/Aldeia Maracanã – RJ/Rio40Caos – RJ/Laboratório de Direitos Humanos de Manguinhos – RJ/ Jornal O Cidadão da Favela da Maré – RJ/Justiça Global – RJ/Rede Universidade Nômade/Ocupa-Belem – PA/Amazonia em Chamas – PA/Coletivo Projetação – RJ/Coletivo Baderna Midiática – SP/Favela Não Se Cala – RJ/UniNomade Garoa – SP/Pré-Vestibular para Negros e Carentes – PVNC – RJ
(Publicada também no site badernamidiatica)

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Caciques e lideranças Munduruku denunciam intervenção do governo federal para forçar construção de usina

Posted: August 12th, 2013 | Author: | Filed under: Mundurukania, Notícias Inflamáveis | Tags: , | Comments Off on Caciques e lideranças Munduruku denunciam intervenção do governo federal para forçar construção de usina

Fonte: http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=7073&action=read

Por Renato Santana,

de Brasília (DF)

Depois de intervenção protagonizada pelo Poder Público de Jacareacanga, município ao sul do estado do Pará, caciques e lideranças afirmam, em nota pública, que o povo Munduruku seguirá contrário à construção de usinas hidrelétricas no rio Tapajós, cujas águas cortam o território indígena e se barradas inundarão aldeias, áreas de subsistência e locais sagrados do povo.

Para as lideranças Munduruku, o governo federal e demais grupos interessados, que usam a prefeitura e os vereadores para dividir o povo e facilitar a entrada do projeto de usina hidrelétrica no Tapajós. “Querem colocar pessoas que são a favor (da usina) para ter o controle. Fizeram reunião para enviar relatório ao governo”, denuncia Jairo Saw, porta-voz do cacique geral Munduruku.

No último dia 3, uma reunião para avaliar o movimento de resistência aos projetos da usina foi convocada. Cerca de 83 caciques desceram das aldeias para Jacareacanga. “A pauta dizia que era para avaliar os últimos acontecimentos do movimento. Era para fortalecer a luta contra os grandes projetos e a organização dos Munduruku de uma forma geral”, explica Saw.

Porém, o prefeito da cidade, Raulien Queiroz, filiado ao PT, policiais fortemente armados, vereadores e assessores políticos garantiram a inversão da pauta: o encontro passou a ser para mudar a direção da Associação Pusuru. Capangas proibiam registros fotográficos, quem chegasse era revistado e faixas contra o projeto hidrelétrico foram proibidas de serem abertas.

Leia mais: Desmandos e autoritarismo marcam encontro indígena em Jacareacanga, sul do Pará

A Associação Pusuru se tornou um dos principais instrumentos do povo Munduruku de mobilização contra empreendimentos hidrelétricos nos rios da Amazônia. Entre abril e maio, os Munduruku ocuparam por duas vezes o principal canteiro da UHE Belo Monte, no rio Xingu, e em junho realizaram manifestações em Brasília e detiveram a ação de técnicos que trabalhavam no interior do território indígena para preparar relatório ambiental em prol da construção da usina. Protestaram também na Câmara dos Vereadores de Jacareacanga, reivindicando um posicionamento contrário dos edis ante o projeto hidrelétrico do governo federal.

Todas as ações foram criticadas pelo prefeito durante a reunião, sem possibilidade de defesa por parte dos Munduruku. “Os caciques e lideranças não foram permitidos de falar e o tempo estava restrito em poucos minutos. Não existe isso em nossas reuniões. A maioria não entendeu o que estava sendo discutido, porque era para se discutir outra coisa”, destaca Jairo Saw. Na nota, o movimento aponta que o golpe foi dado por políticos da cidade que visam acabar com a resistência ao projeto hidrelétrico, mas que “não conseguiram acabar porque somos maioria”.

Maria Leusa Munduruku acabou retirada da Associação Pusuru, da qual era vice-presidente. Passou cerca de dois meses fora da aldeia, entre as ocupações ao canteiro de Belo Monte e as mobilizações de Brasília. Sempre foi contra a usina e presenciou o secretário de Assuntos Indígenas de Jacareacanga ameaçando de que não garantiria o combustível dos barcos para a volta das lideranças às comunidades se as faixas contra a usina não fossem retiradas. “O cacique com quem ele falava se intimidou. Eram muitos policiais, capangas. Fomos todos pegos de surpresa”, afirma.

Estratégia que vem de cima   

 Não é a primeira vez que o Poder Público de Jacareacanga é usado como via de acesso para a imposição de projetos nas terras Munduruku, aquém às vontades e opiniões do povo. Em agosto de 2011, representantes da empresa Celestial Green, ligada ao mercado de carbono e REDD, se reuniram com vereadores para assinar um contrato que concedia direitos de uso absoluto das terras indígenas à empresa durante 30 anos. Os Munduruku não aceitaram, denunciaram às autoridades e negaram qualquer trato.

Leia mais: Cacique Munduruku esclarece farsa sobre contrato de REDD

Para Jairo Saw, a situação presente não é diferente: o governo federal age pelo Poder Público local para impor o projeto de usina nas terras do povo. “A ideia do governo é acabar com a nossa cultura, dividir o povo e fazer a integração social do índio na sociedade que o governo controla. Se o Munduruku está reagindo é para manter a cultura; se o povo se aquietar é porque desapareceram as tradições e a língua”, explica o assessor do cacique geral.

Outro ponto destacado por Saw é o local da reunião. Para ele, a armação começa quando foi decidida a cidade para o encontro. “Eles (prefeito e vereadores) tinham medo de que acontecesse nas aldeias e as lideranças se revoltassem com a atitude dos vereadores. Em Jacareacanga eles podiam chamar a polícia a qualquer momento, intimidando os caciques e lideranças”, analisa Saw. O encontro foi arcado, segundo a liderança, pelos próprios gestores municipais. Dos 83 caciques presentes, apenas seis tiveram direito a fala.

Num outro sentido, as lideranças Munduruku apontam a ingerência dos vereadores indígenas. Saw explica que mesmo que eleitos com votos Munduruku, os parlamentares indígenas não representam o povo e tampouco podem falar e decidir pelo povo, tal como aconteceu na questão do contrato com a Celestial Green e agora no caso da construção da usina. A decisão dos Munduruku é uma só: contra qualquer usina nos rios da Amazônia, sobretudo no Tapajós.

“Então eles precisam respeitar isso. Governo federal tem que discutir com a gente, nossa opinião é que vale. Da outra vez foi a mesma coisa: Paulo Maldos (da Secretaria Geral da Presidência da República) se reuniu com os vereadores, enquanto os caciques ficaram esperando por ele na aldeia Sai Cinza”, frisa Saw.

Os vereadores indígenas alegaram que o movimento Munduruku, em suas ações, sobretudo na retirada dos técnicos do interior da terra indígena, “passa por cima” do cacique geral. Saw rechaça a acusação: “Assessoro o cacique geral e ele acompanha o movimento de resistência, assim como os outros caciques. Inclusive ele esteve presente aqui em Jacareacanga para que os guerreiros mantivessem o controle e ele ter como orientar”.

Nota pública do movimento Munduruku:

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Desmandos e autoritarismo marcam encontro indígena em Jacareacanga, sul do Pará

Posted: August 12th, 2013 | Author: | Filed under: Mundurukania, Notícias Inflamáveis | Tags: , | Comments Off on Desmandos e autoritarismo marcam encontro indígena em Jacareacanga, sul do Pará

Por Claudemir Monteiro,

de Belém (PA)

Parecia Estado de Sítio. Policiais militares e da força tática fortemente armados, agentes da Prefeitura espalhados por todo lugar, políticos e o próprio prefeito monitorando e esbravejando pelos cantos, proibindo e deixando de proibir. Acreditem, era uma reunião de caciques e lideranças indígenas que aconteceu no último 3 de agosto. A cidade: Jacareacanga, povo Munduruku, sul do Pará.

Era perto de 8 horas da manhã quando uma ordem, estabelecida entre indígenas da mesa coordenadora e autoridades locais, autorizava apenas caciques a entrar na reunião. Demais lideranças estavam dispensadas, o que não foi aceito e um novo acordo garantiu a participação de todos.

Acomodados no ginásio poliesportivo da cidade, foi anunciado por uma liderança indígena (que coordenou quase todo o evento) que não seria permitido o uso de faixas, e apenas a TV Buré, afiliada ao SBT, pertencente ao prefeito da Cidade, e o Conselho Indigenista Missionário (cimi) podiam fazer registros fotográficos do evento.

Um pouco surpreso e sem entender a razão do Cimi ter essa exclusividade, busquei uma máquina fotográfica para cobrir o evento. Dirigi-me a uma militante do Comitê Metropolitano Xingu Vivo, que se encontrava na arquibancada, para emprestar a máquina, mas percebi que pelo menos oito pessoas me observavam (quatro policiais, o prefeito e três capangas). Me apresentei como membro do Cimi. O próprio prefeito, que atende pelo nome de Rauliend, do PT, me disse: “Você tem autorização, mas esta máquina não. Pois pertence àquela moça que há algumas semanas esteve fazendo baderna na cidade”. Tentei explicar que aquela moça teria vindo pela primeira vez, mas num tom neurótico o prefeito gritou: ”Se esta máquina for usada eu mando quebrar”.

Disse isso sob o auspício dos policiais, cujo comandante Anderson me alertou que o papel da polícia estava em proteger a vida dos ‘baderneiros’, pois da ultima vez que estiveram na cidade tinham causado muitos tumultos e o povo queria linchá-los, então seria bom controlar os ânimos. Voltei com a máquina e devolvi para a dona e disse para que tomasse cuidado, pois poderiam cumprir a ameaça de quebrar. E de fato quase o fizeram. Pois o capanga do prefeito que atende por nome de “Perito” tentou de forma violenta arrancar a máquina do braço da militante, sob olhares da polícia, cuja função, segundo eles, era de proteger. Só não o fez porque um grupo de guerreiros levantou e foi em cima do agressor, que se sentindo pressionado saiu e sumiu do ginásio.

Na mesa de abertura do evento estavam presentes o cacique geral dos Munduruku, o presidente da Associação Pusuru, Cândido Munduruku, o comandante da Polícia Militar, comandante da Polícia Tática, o prefeito, um representante da Funai e , por fim, um representante da Sesai.

Patrocínio da prefeitura

Na fala do prefeito já mostrava quem era o patrocinador do evento. A reunião tinha apoio da Prefeitura, porque ele acreditava na unidade entre não índios e os Munduruku. Disse que esperava que na reunião os indígenas definissem pelo desenvolvimento do município, o que seria bom para todos. E disse que todos eram bem vindos, menos aqueles que vieram com intenção de tumultuar, num recado velado às ONGs que observavam o evento.

O discurso era intimidador e voltado exclusivamente para os indígenas: os ‘atos de vandalismo’ acontecidos no último mês de junho, o tumulto criado na cidade, a depredação de prédios públicos, eram crimes e que poderiam levar os índios à prisão, pois a lei dos brancos serve para os índios. Notava-se que se tratava de um discurso reproduzido, adequadamente, como professa o governo petista.

Aliás, após desfeita a mesa das autoridades, se compôs a mesa indígena que avaliaria os últimos acontecimentos e buscaria ‘outro rumo’ para a PUSURU. Porém o mais intrigante foi a presença de meia em meia hora do sr. Ivanio (assessor do prefeito e secretário de assuntos indígenas da prefeitura) na mesa coordenadora. Como um fiscal, um monitor, mostrando e dizendo que ele estava ali, bem junto, quase colado na mesa.

Do discurso para a prática

Lideranças indígenas, que tinham pedido faixas para expressar indignação contra o processo do projeto hidrelétrico de Tapajós, foram aos poucos colocando as mesmas no intervalo da manhã para o almoço. Mais ou menos próximo das duas da tarde, o Sr. Ivanio e quatro policiais da Rota arrancaram as faixas. Alguns indígenas presentes se queixaram, mas o Sr. Ivanio falava alto “quem não se adequar às condições, que assuma as despesas do evento”. Estava se referindo às quase duzentas cadeiras e serviço de som que pertencem ao próprio. Só não se sabe se foi gasto dinheiro público da prefeitura o material.

Nesse mesmo momento um casal de estudiosos, ele antropólogo americano e ela uma estudante italiana, que acompanhavam o grupo do Tapajós Vivo, chegaram ao momento em que arrancavam as faixas. Perceberam que havia algo incomum e decidiram sair, mas foram parados pelos policias que pediram para olhar suas máquinas. Não bastou dizer que não registraram nada. Sem dó apagaram (os policias) todos os registros fotográficos do casal. Dois membros do Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) foram parados por pessoas não identificadas que perguntavam sobre a identidade e origem do grupo. O membro do FAOR se apresentou dizendo seu nome e a origem, de Belém. Assim mesmo foram indagados sobre se não tinham o que fazer para estar naquele evento. Foi quando o militante do FAOR apresentou a carta convite da PUSURU justificando sua presença.

Se formos elencar as várias outras atitudes de estranhos, policiais, de agentes da prefeitura vamos fazer uma dissertação de autoritarismos. Mas o certo é que toda coerção fez efeito sobre os indígenas. Os Munduruku saíram do ginásio, depois de quase 20 horas, com uma “nova PUSURU”. Mantendo o atual presidente e incluindo três novos membros. Uma PUSURU adequada ao jeito “Rauliend de ser”. Que não brigue com o governo do PT e mais aberta para dialogar com o governo sobre a hidrelétrica. O sempre coordenador indígena do evento chamou a atenção dos observadores dizendo: “Somente esses quatro tem o papel de representar a PUSURU e fazer documentos com papel timbrado”.

Em conversas com pelo menos 30 caciques após o evento, ficou nítida a confirmação do que acabo de escrever. Diziam que não sabiam o que vinham fazer nessa reunião. Outros diziam: “Fiquei calado por medo de não ter combustível para voltar para casa”; ou: “Tinham muitos policias por lá”; ou ainda: “O pessoal do prefeito tava olhando”. Mas o certo é que há insatisfações. Não sei bem certo se a PUSURU vai conseguir dominar e representar essas insatisfações, cujas vozes reclamam e não aceitam nenhum diálogo com o governo em relação às hidrelétricas.

Conclusão

Na condição de observador, a conclusão que apresento foi de uma armação entre prefeito, vereadores ligados à base, incluindo alguns vereadores indígenas, e militantes para anular a ação dos guerreiros Munduruku contra o processo hidrelétrico no rio Tapajós, imposto pelo governo Dilma, assim como foi feito com Belo Monte, no rio Xingu.

Primeiro era necessário trazer os caciques para Jacareacanga, mudar a associação e enquadrar os indígenas revoltosos. Conseguiram puxar essa reunião indígena para Jacareacanga. É bem sabido que Jacareacanga é uma cidade caracteristicamente indígena. Porém, no meu entender indigenista, uma reunião de assuntos internos se faz numa aldeia, longe e sem interferências de terceiros. E não foi isso que aconteceu nesta reunião do dia 3 de agosto. A interferência na reunião foi descaradamente imoral, baseada em coerções com polícia fortemente armada, com funcionários e até capangas do prefeito espalhados por todo o ginásio, com um secretario de assuntos indígenas, inspetor das decisões, e com indígenas com discursos afinados com o governo local. Não poderia sair outra coisa a não ser uma conformação adequada para reatar um diálogo com o governo do PT, que tinha na PUSURU uma resistência sem igual e vista nos últimos meses. Agora só nos resta saber se vão conseguir enquadrar os indígenas revoltosos.

fonte: http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=7071&action=read


Lideranças Munduruku são impedidas de participarem de Assembléia em Jacareacanga

Posted: August 3rd, 2013 | Author: | Filed under: Mundurukania | 4 Comments »

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Hoje, no dia 03 de Agosto de 2013, ocorre em Jacareacanga uma reunião articulada para discutir pautas ligadas ao Movimento de Resistência Munduruku, para avaliar e planejar as ações passadas e futuras, pautas essas que passaram por um processo de manipulação pelo prefeito apoiado pelos Vereadores da cidade. A reunião conta com a presença da Polícia Federal, Polícia Militar e da Força Tática que monitoram o local e impedem a participação de Lideranças e outros apoiadores na reunião, inclusive uma cinegrafista que foi ameaçada pelo Choque de ter seus equipamentos apreendidos pela suspeita de envolvimento com a ação ocorrida na câmara.

Na resistência contra a construção de Hidrelétricas no Rio Tapajós, os índios da etnia vem travando uma batalha que vai para além do seu território. Ao voltar à Jacareacanga após mais de 2 meses de jornada, os Munduruku se depararam com a atuação de pesquisadores na área, sem o seu conhecimento. A surpresa resultou no sequestro de 3 pesquisadores contratados pela empresa CONCREMAT para realização da 4ª etapa de estudos no Tapajós.

Durante a ação, a tentativa de desarticulação por via do Prefeito e dos Vereadores foi constante, até a chamada para uma reunião fechada entre vereadores e lideranças, levando os Munduruku a promover uma ação direta e afirmativa contra o posicionamento dos Vereadores a favor da Lógica Barrageira.

Os Vereadores afirmam que a Resistência Munduruku deve estar dentro da legalidade e condenam as ações do movimento como vandalismo, quando na verdade, vandalismo são atos como o assassinato de Adenilson Munduruku, na aldeia Teles Pires, a presença da Força Nacional em aldeias, de garimpeiros ilegais em terras indígenas apoiados pela FUNAI e todo o processo de instalação de barragens sem a consulta de povos tradicionais.


Pare e ouça

Posted: August 2nd, 2013 | Author: | Filed under: Mundurukania, Xingu Vive | Tags: , | Comments Off on Pare e ouça

Pare e Ouça

 

“NÓS QUEREMOS DIALOGAR, MAS VOCÊS NÃO ESTÃO DEIXANDO A GENTE FALAR. POR ISSO NÓS OCUPAMOS O SEU CANTEIRO DE OBRAS. VOCÊS PRECISAM PARAR TUDO E SIMPLESMENTE NOS OUVIR.”

Cerca de 200 indígenas das etnias MUNDURUKU, JURUNA, KAYAPÓ, XIPAYA, KURUAYA, ASURINI, PARAKANÃ e ARARA, ocupam a UHE Belo Monte desde o dia 2 de maio de 2013 com um único objetivo:

SEREM OUVIDOS PELO GOVERNO FEDERAL BRASILEIRO.

Leia as principais notícias sobre o que está acontecendo na ocupação:

Carta dos indígenas nº 1 – 02/05/2013
http://ocupacaobelomonte.wordpress.com/2013/05/02/carta-da-ocupacao-de-belo-monte-numero-1/

Carta dos indígenas nº 2 – 03/05/2013
http://ocupacaobelomonte.wordpress.com/2013/05/03/carta-da-ocupacao-no-2-sobre-a-pauta-da-nossa-ocupacao-de-belo-monte/

Carta dos indígenas nº 3 – 04/05/2013
http://ocupacaobelomonte.wordpress.com/2013/05/04/carta-no-3/

Folha de São Paulo – 05/05/2013
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/05/1273736-justica-determina-que-jornalistas-deixem-canteiro-invadido-por-indios-em-belo-monte.shtml

Portal Comunique-se – 06/05/2013
http://portal.comunique-se.com.br/index.php/acontece/71700-jornalistas-estrangeiros-sao-expulsos-de-cobertura-em-belo-monte

Folha de São Paulo – 06/05/2013
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/05/1274135-indios-decidem-manter-invasao-a-canteiro-de-obras-em-belo-monte.shtml

Secretaria Geral da Presidência da República – 06/05/2013
http://www.secretariageral.gov.br/clientes/sg/sg/noticias/ultimas_noticias/2013/05/06-05-2013-esclarecimentos-sobre-a-consulta-aos-munduruku-e-a-invasao-de-belo-monte/view

Carta dos indígenas nº 4 – 07/05/2013
http://ocupacaobelomonte.wordpress.com/2013/05/07/carta-no-4/

Agência Brasil – 07/05/2013
http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-05-07/jornalistas-repudiam-decisao-que-dificulta-cobertura-da-ocupacao-de-belo-monte

G1 – 07/05/2013
http://g1.globo.com/economia/agronegocios/vida-rural/noticia/2013/05/indios-mantem-ocupacao-de-obras-da-usina-de-belo-monte-no-para.html

Brasil de Fato – 07/05/2013
http://www.brasildefato.com.br/node/12832