Professores Munduruku são recontratados

Posted: September 18th, 2014 | Author: | Filed under: Geral | Comments Off on Professores Munduruku são recontratados
 
       “Foram mais de seis meses de muita luta para os direitos conquistados na constitução que garante o nosso direito no LDB e na resolução 03. Mas o 2° semestre deste mês de agosto, graças a conquista do movimento ipereg ayu, conseguiu recontratação dos nossos professores . Desde já agradecemos a luta do movimento e o MPF, que é o nosso braço direito. Sawe! Sawe! Sawe!” (Carta do Movimento Ipereg Ayu, Aldeia Sawre Muybu, 25 de agosto de 2014)

Em Fevereiro de 2014, 70 professores da etnia munduruku foram demitidos arbitrariamente pela Prefeitura de Jacareacanga, sudoeste do Estado do Pará, sob justificativa de que os mesmos não possuíam educação superior para lecionar. A Prefeitura da cidade se ampara na Lei de Diretizes e Bases (LDB) de 1996 e na Lei Municipal 328/2010, que prevê educação superior para professores que trabalham com educação indígena. Entretanto, a lei municipal que garante a contratação de professores temporários sem nível superior iria acabar no final deste ano.

Os indígenas afirmam que essa ação da Prefeitura de Jacareacanga é um retaliação ao movimento Munduruku Ipereg Ayu, que há anos se posiciona contra os grandes projetos previstos para a região, como o Complexo Hidrelétrico Tapajós e de mineração, e que vem organizando séries de movimentos para que seus direitos sejam respeitados.

Além dos desentendimentos com a Prefeitura, a SEMECD afirma que foi dado um prazo de quatro anos para que os professores indígenas fossem formados no curso técnico-integrado Ibaorebu, coordenado pela Funai, que formaria neste ano 300 indígenas munduruku nos cursos de magistério, agroecologia e enfermagem. “A FUNAI não teria ofertado as disciplinas dentro do prazo, o que atrasou a formação dos professores” (mais informações)

Quando questionado sobre a educação indígena diferenciada, Pedro Lúcio (secretário da SEMECD) afirmou apenas que “a Prefeitura não faz educação indígena, ela faz educação para indígenas”.

É SOBRE ESSE ASSUNTO, QUE O AMAZÔNIA EM CHAMAS LANÇA UM VÍDEO ESPECIAL QUE DISCUTE ESSES ENTRAVES SOB DIVERSAS VOZES DO POVO MUNDURUKU.

“Sabemos como funciona a lei da natureza através dos ensinamentos dos anciãos e como que devemos respeitar. E os animais contribuem conosco por que eles nos ensinam as coisas que não sabemos e podemos interpretar as mensagens que nos transmitem. Isso é muito importante. Por isso nós respeitamos e eles também nos respeitam, é assim que vivemos em harmonia com a natureza. Os animais nos ensinam, nos avisam dos perigos que vão acontecer, seja ela coisa boa ou má. Os não índios diriam que isso é mau agouro, pra nós isso é real.” Jairo Saw Munduruku

A educação formal é apresentada ao povo Munduruku por meio da escola na aldeia Missão São Francisco, hoje conhecida por Missão Cururu. Antes de desenvolver o conceito de uma possível educação munduruku, é preciso ter consciência de que educação é um conceito inserido pelo não-índio. Como bem reforçado pelos próprios indígenas, a educação proporcionada pela escola com professores não-indígenas, institucionalizada e financiada pelo Estado, é um meio de impor mudanças forçadas em seus costumes e crenças, que, segundo ele, tira o indígena do contato diário com os parentes – ao invés de ir plantar roça, por exemplo, a criança passa o dia estudando assuntos que não tem aplicabilidade no seu cotidiano.

Segundo a cosmologia munduruku, os munduruku vivem uma nova fase dos ensinamentos que o Karosaykabu (guerreiro e divindade) iniciou. Agora na ausência do mestre, os Munduruku devem colocar em prática tudo aquilo que ele deixou. Os anciãos ficaram incumbidos da tarefa de transmitir seus ensinamentos. “Essa ausência do Karosaykabu é que faz com que este povo chegue a um novo conhecimento, uma nova educação, uma nova visão do mundo. O próprio Munduruku tentando aprender o mundo da política social do não-indío”, para enfrentar as novas batalhas.

O Ibaorebu é um projeto elaborado em 2007 pelos caciques e professores indígenas de todas as aldeias do TI Munduruku e Sai Cinza, assinado e financiado pela Coordenação de Educação da Funai. Segundo projeto postado na página virtual da antiga Associação Pusuru, o mesmo tem como principal objetivo e desafio a busca pela autonomia da etnia e pela “quebra de paradigma do atual modelo de escola”. O projeto estimula também o diálogo entre saberes tradicionais e o conhecimento técnico, oferecendo três cursos integrados ao Ensino Médio: Agroecologia, Magistério e Enfermagem.

Segundo alunos dos cursos, o objetivo seria o fortalecimento da cultura, já que, durante todo ensino regular implantado nas aldeias polos, o currículo escolar não atendia suas necessidades, seguindo uma estrutura do ensino fundamentalmente não-indígena.

De acordo com o projeto divulgado, os objetivos seriam o de garantir a educação básica baseada nos direitos indígenas e na cultura munduruku e estruturada em eixos integrados da matriz curricular, subdividido em três tópicos: linguagens e comunicação, no contexto das relações entre índios e não-índios; identidade e diversidade na sociedade contemporânea, e o valor e uso dos etnoconhecimentos no contexto atual.

Para atingir tais objetivos, o Ibaorebu tem como metodologia o estímulo da pesquisa integrado ao ensino regular, “buscando a construção de um diálogo com base na interculturalidade e intercientificidade”, desenvolvidos a partir de óptica de cada curso.

 Segundo Kaba Swũn, desde o início do curso em 2009, muitos indígenas passaram a se ver de maneira diferente e a valorizar mais a própria cultura. Muitos alunos do Ibaorebu são guerreiros e guerreiras que estão na frente das mobilizações contra o Complexo Hidrelétrico Tapajós.

 


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