Texto 2 sobre a manifestação do dia 24/06/2013 Belém

Posted: June 25th, 2013 | Author: | Filed under: Geral | Tags: | Comments Off on Texto 2 sobre a manifestação do dia 24/06/2013 Belém

“ANTES DE OUVIR QUALQUER MÍDIA COMPRADA, OUÇAM OS QUE ESTIVERAM LÁ!
Hoje, 24 de junho 2013, houve a terceira manifestação do Movimento Belém Livre. Saída de São Brás às 18h horas rumo a Prefeitura. (…). Pois bem, no dia anterior, foi realizada uma assembléia popular na praça da república a fim de definir as principais pautas da manifestação em Belém, a partir da qual se gerou uma carta escrita por diferentes voluntários para ser lida em frente a prefeitura e entregue ao prefeito
Na frente na prefeitura a carta foi lida três vezes através de jogral (método onde um fala e todos repetem para que todos e os mais distantes escutem sua voz). A carta foi entregue ao assessor do prefeito (isto está filmado!) que garantiu levá-la até o mesmo.
Ocorreram dois assaltos. Durante a confusão para prender os assaltantes suspeitos prenderam mais 5 manifestantes SEM PROVAS. Fomos todos para a frente do Fórum (ao lado da Prefeitura) onde os manifestantes detidos estavam dentro de um ônibus. A polícia queria levar os detidos para a DRCO (Divisão de Repressão do Crime Organizado) no Bairro da Pedreira, ao contrário do ocorrido nas outras manifestações onde os detidos foram levados para a DIOE (Divisão de Investigação de Operações Especiais) na rua Avertano Rocha, próximo ao local da manifestação.
DUAS COISAS ESTRANHAS: Realizar o procedimento de B.O. distante da manifestação e, esse procedimento ser realizado na divisão de repressão a crime organizado.
É uma manifestação popular sem líderes, reunindo livremente diversos movimentos sociais, coletivos, partidos e apartidários, estudantes e trabalhadores. NÃO É FORMAÇÃO DE QUADRILHA. OU SERÁ QUE A POLÍCIA E O SEU PREFEITO ESTÃO CHAMANDO SUA POPULAÇÃO DE QUADRILHA? Ah, deve ser porque é São João.
Pois bem, cercamos o ônibus. DIVERSAS VEZES SENTAMOS E LEVANTAMOS AS MÃOS PARA MOSTRAR QUE ESTÁVAMOS DESARMADOS. Nossas únicas “armas” eram nossas câmeras, nossos únicos “escudos” eram nossas blusas, panos e máscaras para nos proteger do spray de pimenta.
(Reforçando! não sejamos tolos, ao ir para uma manifestação use o mínimo de proteção, a polícia não vai querer saber se tu és “pacífico fofinho munido da bandeira nacional” ela irá jogar spray de pimenta na sua cara!)
QUERÍAMOS SABER QUEM ERAM OS DETIDOS, GARANTIR A INTEGRIDADE FÍSICA DELES E QUE A OCORRÊNCIA FOSSE FEITA NO LOCAL OU PRÓXIMO PARA QUE PUDÉSSEMOS ESTAR PRESENTES. Advogados participantes da manifestação, a Assessoria publica e alguns manifestantes dialogaram com a polícia.
Conseguimos então saber quem eram as pessoas detidas. Mais negociação. Então, foi acordado com a polícia, que GARANTIU que cumpriria o acordo, que os detidos seriam levados para a DIOE, que era próximo, sendo que o ônibus seria escoltado pelos manifestantes.
Abrimos espaço para o ônibus sair. E sabe qual foi a palavra de honra da polícia?! O ÔNIBUS ARRANCOU! Na tentativa de impedir que o ônibus prosseguissem, poucos manifestantes conseguiram se dispor na frente do ônibus acabando por serem ENCURRALADOS em uma ruela da cidade velha PELA TROPA DE CHOQUE. O restante foi impedido de acompanhá-los com spray de pimenta e cães.
De fora só se ouvia os tiros.
QUEM É VIOLENTO? QUEM É VÂNDALO?
Só quem estava lá, quem ficou lá, pra tentar garantir a integridade uns dos outros e a não criminalização da nossa voz, responde essa pergunta sem delongas!
O QUE A POLÍCIA FEZ FOI ASQUEROSO!
Mas não culpemos só a Polícia, porque eles cumprem ordens superiores. Mas convenhamos, eles cumprem com gosto.
Isso porque foi no centro. Isso porque muitos filmavam. O QUE ACONTECE NAS PERIFERIAS TODOS OS DIAS AS CEGAS? O QUE ACONTECEU E ACONTECE COM TODOS QUE UM DIA TENTARAM MUDAR ESSA REALIDADE?
NÃO VIREM A CARA A ESSAS PERGUNTAS!
Não se calem! Pelo que vocês acreditam de melhor nessa vida, não se calem!
Corremos pela rua 16 de novembro a fim de encontrar os que ficaram encurralados e tirá-los de lá. A policia cercou, avançou. Conseguimos nos juntar. Chegamos a Tamandaré. Lá alguns reuniram lixo e tacaram fogo nele fechando a 16 na tentativa de nos proteger.
Mas o que nós éramos? Pessoas a pé acuadas, tentando proteger os nossos sem nada nas mãos. O que eles eram? Uma tropa de choque, muitos e muito bem armados, a pé, com carros e motos.
Os vândalos somos nós!
Todos saíram correndo. Se espalhando pelas ruas da cidade velha, procurando onde se proteger. Alguns entraram no supermercado Nazaré para se proteger. A tropa entrou no mercado. Dos que estavam lá prenderam mais alguns. DOS QUE PRENDERAM, A MAIORIA ERAM NEGROS. O que vocês me dizem disso?
Ah, claro, não existe racismo no Brasil, logo no Brasil, o país das manifestações pacíficas.
O que eu vivi nessa noite de 24 de junho de 2013, e peço logo desculpas a minha mãe e aos meus avós, não vai me tirar das ruas. Agora que eu vi bem de perto, não me calo nunca mais!
E realmente gostaria que as pessoas parassem de ser pau mandados da TV e olhassem a sua volta, e falassem, gritassem, não se calassem nunca mais diante de qualquer abuso!
Se movimento popular é formação de quadrilha, se não se calar diante da injustiça é violência, se denunciar o abuso é vandalismo, se resistir pra garantir nossos direitos é crime. Sim, somos vândalos, somos criminosos, somos violentos!”


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