Eleições 2014 e Amazônia.

Posted: October 9th, 2014 | Author: | Filed under: Geral, Série Eleições e Amazônia | Comments Off on Eleições 2014 e Amazônia.

Diante de uma profusão de textos com opiniões e posicionamentos sobre o segundo turno das eleições de 2014, que estão diariamente pipocando  nas redes sociais, decidimos postar alguns textos de parceiros e colaboradores do blog AMAZÔNIAemCHAMAS, para que possamos armazenar essas interpretações antes que se percam nas mãos do sr. “facetruque”.

Os texto escolhidos narram diferentes pontos de vista, como os comentários racistas contra os eleitores do PT nas regiões Norte e Nordeste do país; e sobre o rumo que a política governamental está sendo imposta na região amazônica.

Quem quiser mandar outros textos, para serem publicados, que construam essa temática, nos mandem email: amazoniaemchamas@riseup.net

>> Por Lan Lima, acerca  das ofensas xenofóbicas de centro-sulistas sobre a vitória da presidenta Dilma Rouseff no Norte e no Nordeste:

Até agora hesitei em dar minha opinião sobre essas eleições por aqui, estava e ainda estou muito pensativa sobre tudo isso, analisando as coisas cuidadosamente, sobre votar, não votar, em quem votar… mas depois de ter lido um comentário de uma desconhecida sobre a distribuição dos votos de cada candidato por estado resolvi me manifestar por aqui. O comentário era o seguinte:

“Norte e Nordeste …..antro d analfabetos e ignorantes !!!Por isso Dilma/ PT sempre, ganha lá!!! Haja bolsa família , miséria e preguiça p/ quererem mudanças!!!”

Infelizmente não me surpreendi em nada com ele, o que não significa que não sou afetada pelo seu conteúdo. Cresci em uma cidade planejada pra abrigar trabalhadores de um grande projeto implantado na Amazônia, sou filha dessa violência. Na época da implantação eram poucos os trabalhadores da região, que eram designados a ocupar os cargos mais baixos na empresa. Os cargos mais altos eram distribuídos entre pessoas da região sudeste, sul e até centro-oeste, que vieram de seus Estados para contribuir com a exploração a todo custo da área, com o etnocídio e o genocídio de sua gente.
Essa lógica de distribuição espelhava, e espelha ainda, a violência, o preconceito, o etnocentrismo, a lógica de exploração indiscriminada e a todo custo… as milhares de contradições envolvidas no modelo de desenvolvimento imposto à região desde que os primeiros pés brancos aqui pisaram. Cresci ouvindo comentários como este, e ainda piores, cresci ouvindo, sentindo e sofrendo de injúrias como e piores do que essas, desde ataques a capacidade intelectual até ataques machistas contra os hábitos amorosos e sexuais das mulheres nortistas, passando pela clássica preguiça.
Isso acontecia e ainda acontece, não raro voltar à cidade e ouvir coisas como essas, sentir na pele a superioridade com que se impõem os que descendem de outras terras, mas vieram pra cá, pq lá não tinham onde mamar, acumularam riquezas e nunca voltaram. Esse tipo de comentário veicula de forma explícita um discurso de ódio, ignorante, homogeneizante, de milhares de pessoas, que sinceramente, nem estão em situação tão melhor e muitas vezes muito pior do que a nossa aqui em cima (pelo menos água ainda temos bastante por aqui).
Digo isso com base nos padrões capitalistas, machistas, racistas que dão bases a tais julgamentos, em que há um padrão, uma meta a ser alcançada de acumulação de bens, de homogeneização e também de idiotização da população, padrões estes indispensáveis ao bem-estar social nesta ordem, propagados nas novelas e telejornais da rede globo – que não por acaso apoia a candidatura de Aécio – entupindo nossos cérebros todos os dias. Fugimos à ordem em vários aspectos, há as formas de transcriação dos enunciados por quem os consome. Somos aptos e multiplicamos as perspectivas, talvez seja este o problema em questão, tendo em vista a ameaça que isso representa à manutenção de uma perspectiva unilateral da existência.
A meu ver não foram estes padrões que levaram Dilma ao segundo turno no norte e nordeste (acho que não sou capaz de dar conta das infinitas motivações, enumero aqui algumas que percebo ao meu redor), mas necessidades reais e básicas supridas minimamente pelo seu governo, e pelo menos pela experiência e contato que tenho com pessoas que nela votaram, pelo terror que um governo do PSDB representa, pela lembrança macabra do que tínhamos 12 anos atrás e digo isso em termos cotidianos principalmente. Cotidiano este de uma riqueza inimaginável, que do alto de seus apartamentos, de dentro de seus carros blindados, com ar condicionado a classe média e alta, inclusive a daqui de Belém, que vi determinada e vestida de amarelo no último domingo nunca vai conseguir compreender e nem quer.
Não votei em Dilma, nem no PT que deu continuidade a essa lógica de dominação na região, que viabiliza e impulsiona a investida do capital, do agronegócio, das hidrelétricas e acoberta o mandonismo, o coronelismo, o messianismo… que ainda hoje catequiza e coloniza a região – vide coligação “Todos pelo Pará”. Não votei e nunca votarei em Aécio e no PSDB pelos mesmos motivos e muitos outros mais.
Sinto-me muito inclinada a nem votar, porque decididamente sou avessa à lógica senil da democracia representativa. Acredito que a política está para além das urnas, é feita também e principalmente no dia-a-dia, está nas resistências diárias, de uma cultura, de uma forma de vida, e disso penso que nortistas e nordestinos sabem muito bem. O que não posso fazer é fingir que não vi, não li, ou que não é também a mim direcionado tal discurso só porque não votei em Dilma. A ignorância e o preconceito vão além dessas eleições e denunciam um país que não sabe de si, completamente intransigente a toda e qualquer forma que tome a diversidade e a própria decadência e falácia da ideia de nação. Ideia essa que está no topo da lista das justificativas que nos dão para aceitar a exploração dos recursos que aqui se encontram (Belo Monte era ou não era interesse nacional?) e da gente que habita e é habitada por eles.

 


Professores Munduruku são recontratados

Posted: September 18th, 2014 | Author: | Filed under: Geral | Comments Off on Professores Munduruku são recontratados
 
       “Foram mais de seis meses de muita luta para os direitos conquistados na constitução que garante o nosso direito no LDB e na resolução 03. Mas o 2° semestre deste mês de agosto, graças a conquista do movimento ipereg ayu, conseguiu recontratação dos nossos professores . Desde já agradecemos a luta do movimento e o MPF, que é o nosso braço direito. Sawe! Sawe! Sawe!” (Carta do Movimento Ipereg Ayu, Aldeia Sawre Muybu, 25 de agosto de 2014)

Em Fevereiro de 2014, 70 professores da etnia munduruku foram demitidos arbitrariamente pela Prefeitura de Jacareacanga, sudoeste do Estado do Pará, sob justificativa de que os mesmos não possuíam educação superior para lecionar. A Prefeitura da cidade se ampara na Lei de Diretizes e Bases (LDB) de 1996 e na Lei Municipal 328/2010, que prevê educação superior para professores que trabalham com educação indígena. Entretanto, a lei municipal que garante a contratação de professores temporários sem nível superior iria acabar no final deste ano.

Os indígenas afirmam que essa ação da Prefeitura de Jacareacanga é um retaliação ao movimento Munduruku Ipereg Ayu, que há anos se posiciona contra os grandes projetos previstos para a região, como o Complexo Hidrelétrico Tapajós e de mineração, e que vem organizando séries de movimentos para que seus direitos sejam respeitados.

Além dos desentendimentos com a Prefeitura, a SEMECD afirma que foi dado um prazo de quatro anos para que os professores indígenas fossem formados no curso técnico-integrado Ibaorebu, coordenado pela Funai, que formaria neste ano 300 indígenas munduruku nos cursos de magistério, agroecologia e enfermagem. “A FUNAI não teria ofertado as disciplinas dentro do prazo, o que atrasou a formação dos professores” (mais informações)

Quando questionado sobre a educação indígena diferenciada, Pedro Lúcio (secretário da SEMECD) afirmou apenas que “a Prefeitura não faz educação indígena, ela faz educação para indígenas”.

É SOBRE ESSE ASSUNTO, QUE O AMAZÔNIA EM CHAMAS LANÇA UM VÍDEO ESPECIAL QUE DISCUTE ESSES ENTRAVES SOB DIVERSAS VOZES DO POVO MUNDURUKU.

“Sabemos como funciona a lei da natureza através dos ensinamentos dos anciãos e como que devemos respeitar. E os animais contribuem conosco por que eles nos ensinam as coisas que não sabemos e podemos interpretar as mensagens que nos transmitem. Isso é muito importante. Por isso nós respeitamos e eles também nos respeitam, é assim que vivemos em harmonia com a natureza. Os animais nos ensinam, nos avisam dos perigos que vão acontecer, seja ela coisa boa ou má. Os não índios diriam que isso é mau agouro, pra nós isso é real.” Jairo Saw Munduruku

A educação formal é apresentada ao povo Munduruku por meio da escola na aldeia Missão São Francisco, hoje conhecida por Missão Cururu. Antes de desenvolver o conceito de uma possível educação munduruku, é preciso ter consciência de que educação é um conceito inserido pelo não-índio. Como bem reforçado pelos próprios indígenas, a educação proporcionada pela escola com professores não-indígenas, institucionalizada e financiada pelo Estado, é um meio de impor mudanças forçadas em seus costumes e crenças, que, segundo ele, tira o indígena do contato diário com os parentes – ao invés de ir plantar roça, por exemplo, a criança passa o dia estudando assuntos que não tem aplicabilidade no seu cotidiano.

Segundo a cosmologia munduruku, os munduruku vivem uma nova fase dos ensinamentos que o Karosaykabu (guerreiro e divindade) iniciou. Agora na ausência do mestre, os Munduruku devem colocar em prática tudo aquilo que ele deixou. Os anciãos ficaram incumbidos da tarefa de transmitir seus ensinamentos. “Essa ausência do Karosaykabu é que faz com que este povo chegue a um novo conhecimento, uma nova educação, uma nova visão do mundo. O próprio Munduruku tentando aprender o mundo da política social do não-indío”, para enfrentar as novas batalhas.

O Ibaorebu é um projeto elaborado em 2007 pelos caciques e professores indígenas de todas as aldeias do TI Munduruku e Sai Cinza, assinado e financiado pela Coordenação de Educação da Funai. Segundo projeto postado na página virtual da antiga Associação Pusuru, o mesmo tem como principal objetivo e desafio a busca pela autonomia da etnia e pela “quebra de paradigma do atual modelo de escola”. O projeto estimula também o diálogo entre saberes tradicionais e o conhecimento técnico, oferecendo três cursos integrados ao Ensino Médio: Agroecologia, Magistério e Enfermagem.

Segundo alunos dos cursos, o objetivo seria o fortalecimento da cultura, já que, durante todo ensino regular implantado nas aldeias polos, o currículo escolar não atendia suas necessidades, seguindo uma estrutura do ensino fundamentalmente não-indígena.

De acordo com o projeto divulgado, os objetivos seriam o de garantir a educação básica baseada nos direitos indígenas e na cultura munduruku e estruturada em eixos integrados da matriz curricular, subdividido em três tópicos: linguagens e comunicação, no contexto das relações entre índios e não-índios; identidade e diversidade na sociedade contemporânea, e o valor e uso dos etnoconhecimentos no contexto atual.

Para atingir tais objetivos, o Ibaorebu tem como metodologia o estímulo da pesquisa integrado ao ensino regular, “buscando a construção de um diálogo com base na interculturalidade e intercientificidade”, desenvolvidos a partir de óptica de cada curso.

 Segundo Kaba Swũn, desde o início do curso em 2009, muitos indígenas passaram a se ver de maneira diferente e a valorizar mais a própria cultura. Muitos alunos do Ibaorebu são guerreiros e guerreiras que estão na frente das mobilizações contra o Complexo Hidrelétrico Tapajós.

 


Povo Munduruku se posiciona contra projetos hidrelétricos, Por Sue Branford e Nick Terdre

Posted: September 15th, 2014 | Author: | Filed under: Geral | Comments Off on Povo Munduruku se posiciona contra projetos hidrelétricos, Por Sue Branford e Nick Terdre

‘Povo Munduruku se posiciona contra projetos hidrelétricos’ Por Sue Branford e Nick Terdre para a BBC Website

Artigo original Aqui

“Se essas hidrelétricas forem construídas, tudo vai acabar” disse Lamberto Painha,um dos caciques do povo Munduruku.” “Aquela vila ali vai ficar inundada,” ele diz. “Macacos, pássaros, índios- todos perderemos nossas casas.” Nos últimos meses, 13.000 índios Munduruku têm protestado contra o plano do governo de construir diversas hidrelétricas que irão inundar parte de suas terras na região do Rio Tapajós.Após uma semana de reuniões em abril, os caciques de mais de 60 aldeias emitiram uma declaração exigindo que o governo lhes ouça antes de dar continuidade às obras das cinco hidrelétricas planejadas para o rio. As mulheres das aldeias não são tradicionalmente guerreiras, mas agora participam da luta. Maria Leusa Kaba Munduruku, uma das lídereres das guerreiras diz que todo mundo precisa estar envolvido. “O governoprecisa reconhecer nossos direitos também, não só os direitos dos outros,” disse Leusa.

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Riqueza biológica Apesar da enorme resistência por parte das tribos indígenas e dos ambientalistas, as obras da gigantesca hidrelétrica Belo Monte, no Rio Xingu continuam avançando. Agora a nova fronteira para a expansão das hidrelétricas brasileiras está no Rio Tapajós- grande afluente do Rio Amazonas que fica mais a oeste.

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A oposição às hidrelétricas no Rio Tapajós é ainda maior, já que a biodiversidade nessa região é uma das mais ricas do mundo. Adrian Barnett, um biólogo britânico que trabalha na área, diz que – mesmo para os padrões elevados da bacia amazônica – o Tapajós é uma área de extrema riqueza biológica. Das 1.837 espécies de aves brasileiras, 613 podem ser encontradas no Tapajós. O governo pretende leiloar a primeira hidrelétrica, São Luiz do Tapajós, ainda esse ano. Juntamente com a próxima hidrelétrica, Jatobá, deve ser ativada em 2020. Assim como o alagamento de 552km de terra, as barragens vão mudar o fluxo do rio, prejudicando assim a vida dos índios e de diversas comunidades de pescadores. As hidrelétricas terão capacidade de 8.471 megawatts e irão gerar tanta eletricidade quanto a Belo Monte. Sem sentido Para diminuir o impacto ambiental, o governo está copiando o sistema de plataforma de petróleo usado no Mar do Norte. Ao invés de construir mais estradas eles estão trazendo os trabalhadores em barcos para turnos de duas semanas. As autoridades insistem que precisam explorar o enorme potencial hidrelétrico da Amazônia para que o Brasil tenha energia suficiente para alimentar seu ambicioso programa de desenvolvimento. Claudio Salles, diretor do Instituto Acende Brasil, diz que dos 19.000 megawatts adicionais que o governo pretende ter até 2021, 16 mil serão gerados na Amazônia. “Isso te dá uma ideia do tanto que a energia é importante para nós,” disse o diretor. Mas alguns analistas acreditam que o Brasil precisa repensar seus planos de desenvolvimento. Célio Bermann, professor de energia e meio ambiente da Universidade de São Paulo, diz que o Brasil está fornecendo grandes subsídios para os setores que precisam de energia elétrica, como a fundição de bauxita na Amazônia, para a produção de alumínio, sem pensar se isto é realmente interessante a longo prazo para o país. “Estamos exportando uma tonelada de alumínio por $1.450-1.500 enquanto a importação de alumínio fabricado é o dobro do preço.” “Não faz sentido, acho absolutamente desnecessário para o país que a produção de alumínio dobre nos próximos dez anos,” ele acrescenta. O professor também ressalta que o Brasil voltará a ser produtor de bens primários, sem agregação de valor. “É precisamente a produção de bens primários que usa muita energia e gera poucos empregos.” Desejo de evoluir Os trabalhos preparatórios para a construção da hidrelétrica de Teles Pires, que será construída no Rio Teles Pires, afluente do Tapajós, já resultam no desmatamento da região ao redor das Sete Quedas (Sete Cachoeiras) – uma área considerada sagrada pelos Munduruku e outros povos indígenas. Em carta aberta, os caciques Munduruku se queixaram: “Há urnas funerárias lá, onde os nossos antigos guerreiros estão enterrados. Há também um portal, só visto por pajés e líderes espirituais, que podem viajar através dele para um outro mundo, desconhecido.” “Por que eles destruíram isso?” um cacique perguntou. No entanto, para outras pessoas o progresso não pode ser adiado. João Francisco Veira, vereador da cidade de Jacareacanga, disse à BBC: “Os índios não querem voltar 300 anos. Eles querem evoluir, assim como o rio corre para o mar. Eles querem celular. Eles querem internet.” Maria Leusa Kaba Munduruku concorda que querem se modernizar. “Queremos isso mas conservando nossa cultura. Isso é possível e vamos lutar por isso.”

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Fotos: Mauricio Torres Video: Nayana Fernandez Tradução: Maria Pacheco Fernandes


Governo continua apressadamente projeto de chacina no Rio Tapajós.

Posted: August 5th, 2014 | Author: | Filed under: Geral, Mundurukania | Comments Off on Governo continua apressadamente projeto de chacina no Rio Tapajós.

Em uma página do governo federal, uma reunião para consulta prévia está sendo chamada para discutir, como diz no texto,  os ‘possíveis’ projetos de empreendimentos na região. O texto no documento é o seguinte:

“O governo federal, através da Secretaria-Geral da Presidência da República, realiza nos dias 2 e 3/9, na aldeia Praia do Mangue, município de Itaituba (Pará), reunião com representantes de entidades, aldeias e lideranças do povo Munduruku.  O objetivo é apresentar a proposta de consulta aos povos indígenas que vivem na bacia do rio Tapajós sobre possíveis projetos de empreendimentos na região.

Na ocasião será definida a forma que a consulta deve ser realizada, conforme a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de acordo com decisão da Justiça Federal de Santarém (PA).  A iniciativa do governo federal visa pactuar um processo que possibilite ampla informação e participação das comunidades  que possam ser, direta ou indiretamente, impactadas pelos empreendimentos.”

Aqui está o  link.

Esta consulta pública será voltada apenas para área de duas hidrelétricas no plano inicial do complexo Tapajós: São Luiz do Tapajós e Jatobá.  A palavra consulta já perdeu o seu significado original, pois, como todos sabem, na região os estudos, planos e acordos para mais este ’empreendimento’ na Amazônia já vem acontecendo a mais de dois anos, como podemos perceber nas reportagens do portal IHU abaixo:

Em silêncio, governo começa a tocar usina no Rio Tapajós.

Povos do Tapajós apelam ao STF e ao congresso pela reprovação de MP que diminui unidades de conservação no Pará.

O convite, em seu segundo parágrafo, deixa essa situação bem clara, quando não mostra mais saída nem capacidade de veto, no trecho: “A iniciativa do governo federal visa pactuar um processo que possibilite ampla informação e participação das comunidades  que possam ser, direta ou indiretamente, impactadas pelos empreendimentos.” Já apresenta como certo o empreendimento do governo antes de uma decisiva consulta.

Consultas prévias falsas que impõem e ajudam na invisibilização da resistência que há na região?! Permanente processo de imposição de saberes eurocêntricos sobre desenvolvimento, progresso e gestão sobre comunidades que não dependem deste sistema e que se vêm argoladas e sem saída. Pela autonomia da construção destas consultas pelos povos que habitam o Tapajós e serão diretamente afetados na construção de mais algumas UHE’s da morte na Amazônia.

Para saber mais sobre a resistência Munduruku contra os projetos de barragem no rio tapajós, veja em nossa página: Mundurukus x UHES>> Mapeamento (em) processo.

 

Restinga- território Munduruku

 

 


Indigenas ocupam unidade regional de educação e pedem respeito a educação diferenciada.

Posted: July 7th, 2014 | Author: | Filed under: Geral | Comments Off on Indigenas ocupam unidade regional de educação e pedem respeito a educação diferenciada.

 

Uma comissao de Indígenas da Etnia ka’apor ocuparam hoje (7) a Unidade Regional de Educação (URE) de Zé doca, oeste do Maranhão. A comissão exige o cumprimento de 12 pontos fundamentais para a construção de uma educação digna e diferenciada de acordo com a cultura Ka’apor. Dentre eles, o reconhecimento do centro de formação de saberes Ka’apor, organização e repasse da merenda escolar, construção e reforma de escolas, e o pagamento dos salarios aos professores, atrasados há mais de 2 meses.  Segundo Florença Cutrim, gestora da URE, para isso é necessário efetuar o recadastramento  dos professores. Agora, a URE e os indigenas correm contra o tempo para trazer os professores das aldeias até a regional em Zé Doca. Os indígenas afirmam que não vão se retirar do local até que as reivindicações sejam atendidas.

De Zé Doca, texto e fotos: Hugo Nascimento – Amazônia em Chamas.

 

 


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Foto e txt Hugo nascimento – amazonia em chamas – de Zé doca.


Por Saúde Digna, Educação Diferenciada e Território Protegido, Indígenas Ka’apor se reúnem em Presidente Médici

Posted: July 2nd, 2014 | Author: | Filed under: Geral | 2 Comments »

p matéria

Hoje, 2 de julho, em Presidente Médice, pequeno município no interior do Maranhão, cerca de 150 indígenas da etnia Ka’apor e a Coordenação das Organizações e Articulação dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA) se reuniram para debater os desafios que enfrentam para a manutenção de suas culturas frente aos projetos desenvolvimentistas do Estado e do capital. Os principais pontos debatidos são a defesa do território Ka’apor, ameaçado pelo avanço de madeireiros dentro da terra indígena, homologada em 1989, e a continuidade do Etnomapeamento da TI Alto Turiaçu. Em conversa realizada durante a manhã algumas questões foram levantadas. Além de colocadas as ameaças do agronegócio e da agropecuária aos direitos indígenas, foram pautadas também a importância da união entre os povos como mecanismo de fortalecimento e resistência das etnias em defesa do meio ambiente e do seu modo de vida, bem como a necessidade de educação autônoma diferenciada, e saúde especifica de acordo com a cultura Ka’apor. “Hoje nós fala 100% a língua [Ka’apor], daqui a cinco anos a gente pode perder isso, por isso a importância da educação”, evidencia Yrakajú Ka’apor. A reunião, que segue por tempo indeterminado pretende avançar no planejamento do processo de monitoramento territorial e ambiental, com o etnomapeamento e etnozoneamento, que vendo sendo realizado pelos próprios indígenas e se configura como mais um dispositivo para a proteção do território de 530.000,00 hectares. As estimativas apontam que destes, ao menos 60.000,00 estão devastados pelo avanço das atividades madeireiras.

 

ft & txt Hugo Nascimento


Entrevista com professores Munduruku sobre a demissão arbitrária da prefeitura de Jacareacanga

Posted: May 16th, 2014 | Author: | Filed under: Geral | 2 Comments »

 

Entrevista realizada no final do mês de abril de 2014 com professores munduruku sobre a demissão arbitrária da prefeitura de Jacareacanga (PA). Sandro Paigo, Frávio Kaba e Antonio Saw denunciam a perseguição do poder público e a realidade das aldeias que sofrem com 4 meses sem aula.

No mês de fevereiro de 2014, 70 professores munduruku que atuavam na educação básica foram demitidos arbitrariamente pelo poder municipal. A prefeitura culpabiliza a “falta de formação” dos professores, mas despreza as resoluções nº 3 e 5 do Conselho Nacional de Educação, que garante a permanência de professores indígenas por formação de serviço.
No dia 10 de março, cerca de 70 professores decidiram trancar a Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto (SEMECD) de Jacareacanga. Saíram do local sem obter resposta.
Em maio, com muitas escolas ainda sem atividades, os munduruku decidiram, no dia 5, manifestarem-se novamente.
Na manhã do dia 13 aproximadamente 500 garimpeiros, comerciantes e membros do Poder Público, incluindo o próprio secretário de assuntos indígenas da cidade, atacaram 20 munduruku na manhã desta terça, 13, durante ação contra a presença dos indígenas no município. Dois munduruku acabaram feridos nas pernas depois de atingidos por rojões lançados pelos manifestantes anti-indígenas.
Os munduruku seguem lutando pelos seus direitos e pelo seu território.
Leia a IX Carta do Movimento Munduruku Ipereg Ayu

http://amazoniaemchamas.noblogs.org/p…

Mais informações
http://reporterbrasil.org.br/2014/03/…

http://www.xinguvivo.org.br/2014/05/0…

http://cimi.org.br/site/pt-br/?system…


IX- Carta do Movimento Munduruku Ipereg Ayu

Posted: May 15th, 2014 | Author: | Filed under: Geral | Comments Off on IX- Carta do Movimento Munduruku Ipereg Ayu
Há pouco mais de uma semana dezenas de Munduruku vem protestando em Jacareacanga, pela renovação do contrato de 70 professores indígenas, demitidos em fevereiro pela Prefeitura do município paraense. Os Mundukuru foram às ruas e enfrentaram, mais uma vez, a intolerância do poder público, tristemente apoiada por comerciantes, garimpeiros, parte da população e pelo próprio secretário de assuntos indígenas da cidade. No último dia 12, a falta de sensibilidade à causa Munduruku – que atravessa a luta contra as hidrelétricas na região, passando por reivindicações mais rotineiras, como a necessidade e importância da participação dos indígenas no projeto educacional do estado – foi além da falácia habitual. Houve violência gratuita e física contra os Munduruku – inclusive mulheres e crianças. Assim como em manifestações que se alastram pelas grandes cidades, nos confins amazônicos a polícia também “dispersa” quem se opõe às decisões injustas do Estado com bombas que vão além do efeito moral; seus disparos machucam também a carne das pessoas. E em contextos esquecidos pela grande mídia, invisíveis ao Bra$il que enxerga a Amazônia como um lugar inabitado, a cena é mais aterradora e menor ainda a assistência às vítimas da agressão institucional
Abaixo, a carta do Movimento Munduruku Ipereg Ayu.

 

 

 

 

 

 

 

CARTA2


Abaixo da Barragem – Zila Kayapó, enchente na volta grande do Xingu

Posted: April 4th, 2014 | Author: | Filed under: Geral | Comments Off on Abaixo da Barragem – Zila Kayapó, enchente na volta grande do Xingu

 

“Abaixo da barragem” é uma série de 4 vídeos, que serão lançados quinzenalmente durante 2 meses contando a história de quem vive na Volta Grande do Xingu, abaixo da barragem de Belo Monte. O primeiro episódio é a entrevista com Zila Kayapó, moradora da Ilha Murici, no município de Senador José Porfírio que no dia 7 de  Março teve que sair de sua casa com os filhos, marido, telhas, camas e redes devido à cheia do rio Xingu. Desde o início da construção das ensecadeiras o rio, que já apresentava épocas de cheia, passou a apresentar um comportamento incomum segundo as populações locais e estudiosos. Nossa equipe visitou Zila dias antes do alagamento de sua casa, presenciamos o cotidiano daquelas 11 pessoas, que sobreviviam principalmente da pesca, e ainda a tristeza e desespero pelo descaso do Consorcio Construtor Belo Monte, dos governos federal, estadual e municipal. Hoje em Vitória do Xingu, sem acesso à sua antiga casa e à pesca a família foi obrigada a deixar para trás não somente o território, como todo seu modo de vida tradicional.

Série de vídeos é produzida em parceria com o Movimento Xingu Vivo.

saiba mais sobre o caso de Zila em:

http://www.xinguvivo.org.br/2014/03/10/mulheres-do-xingu-nem-rosas-nem-bombons-mae-de-dez-filhos-so-queria-salvar-o-pouco-que-tinha/


De como o sistema de transporte público estrangula os pobres em Belém.

Posted: March 27th, 2014 | Author: | Filed under: Geral | Comments Off on De como o sistema de transporte público estrangula os pobres em Belém.
uma imagem da relação periferia-centro na capital paraense.

uma imagem da relação periferia-centro na capital paraense.

Escrito por Rafael Busquetti

Em Belém, existe claramente uma diferenciação sócio-espacial dentro da cidade, com os bairros “de centro”, o núcleo com a melhor infra-estrutura e a maior circulação de recursos financeiros, e os inúmeros outros bairros de periferia, que, em piores condições estruturais, compõem uma área muito maior do que o centro, e têm também uma população bem maior.

As distâncias entre esses espaços são grandes, enormes para se caminhar, e locomover-se de bicicleta, em Belém, é uma aventura muito arriscada que poucos se atrevem a encarar. (As bicicletas têm um potencial incrível, mas não é esse o foco deste texto – basta dizer que, infelizmente: não há ciclovias interligando todas as partes da cidade, apenas algumas vias principais; na maioria das vezes, a ciclovia encontra-se bloqueada por carros estacionados impunemente; e, principalmente, a conscientização em torno de como compartilhar o trânsito urbano é mínima, os motoristas dos automóveis de todo tipo são uma ameaça aos ciclistas, não tendo a menor consideração, pelo contrário, parece haver um impulso assassino latente em alguns motoristas de ônibus e outros que aflora quando avistam um ciclista.)

Some-se a isso todos os fatores econômicos que impossibilitam a maioria das pessoas de ter seu próprio carro (como o preço dos veículos, da manutenção, do combustível e dos impostos), e podemos visualizar uma “metrópole” com mais de 2 milhões de habitantes cujo principal meio de transporte é o público – o busão!

Acontece que esse transporte público é extremamente sacana com as pessoas que moram na periferia, as que mais precisam dele! Uma sacanagem intencional, porque é absurdo pensar que nunca ninguém percebeu isso, e os responsáveis percebem, sabem, e são omissos ou intencionalmente maldosos, é claro!

Não vou falar sobre a péssima qualidade dos ônibus (assentos quebrados, baratas), dos motoristas (!) e do trânsito caótico, lotado, stressante, paralítico; porque isso todo mundo sabe e sente todos os dias. Quero apontar aqui uma sacanagem diferente, nem sempre incluída nas análises e discussões, que diz respeito à vida cultural da cidade e da população.

Primeiro: o transporte público encerra por volta da meia-noite e a “segurança” urbana (a probabilidade de ser assaltado ou qualquer outro tipo de violência) é praticamente inexistente durante a madrugada. Portanto, no final de cada dia, se você precisa dos ônibus para chegar à sua casa, é bom se apressar porque o ônibus da meia-noite é sua última chance. E se você tem alguma esperança de fazer o trecho centro-periferia, geralmente de mais de uma hora de duração, sentado ou sentada, sinto muito mas já deveria estar a caminho, amigx, porque sabe Deus e a malandragem como isso é possível. As linhas para cobrir os principais trechos de ligação entre centro e periferia têm uma quantidade totalmente insuficiente de ônibus operando.

Segundo: a maioria das atividades culturais rolam pelo centro. O poder público municipal desenvolve um sistema voltado justamente para que as atividades que ele promove passem uma boa aparência, isto é, uma ilusão de qualidade conquistada pela cosmética dos bons espaços (Estação Dondocas, Parque da Residência, Hangar, Portal, etc). Constroem-se esses espaços e a eles se destinam as programações principais. Nessas atividades – a maioria e as que concentram a maior parte dos recursos públicos –, não é objetivo a inclusão social, nem a participação de expressões culturais oriundas das periferias. Esse círculo de poder é elitista e não está preocupado em deixar de ser.

Tradicionalmente sempre foi assim, e, imutavelmente, o centro torna-se o pólo da vida artística. Com isso, os outros setores da população interessados em atividades culturais significativas também acabam voltando seus esforços para realizá-las nesses mesmos espaços ou em espaços próximos, para ter-se a expectativa de um bom público. Mesmo as atividades mais autônomas são, na maioria das vezes, inseridas nessa mesma esfera de conforto do centro, aquela que já conhecemos e sabemos como utilizar.

Terceiro: o primeiro argumento vale para todas as linhas, centro-periferia, periferia-periferia e centro-centro. Quem precisa de ônibus quase não tem opção durante a madrugada, só vans, táxis e moto-táxis; sem ter, no entanto, o dinheiro suficiente pras relações puramente comerciais que são a regra mesmo em sua própria vizinhança.

Tudo isso forma um cenário que se arrasta a décadas e tornou-se, como todo o resto de uma sociedade doente, banal e rotineiro na vida e na percepção da maioria das pessoas, não sendo sequer discutido ou identificado!

É o cenário do “horário do rush”, do trânsito bizarramente lotado das 17h30 às 19h30, dos ônibus-sauna, ônibus-latas-de-sardinha, passageiros-sardinha. A existência de uma disputa feroz por uma vaga no ônibus, mesmo que seja em pé e esmagado por todos os lados! E as filas de pessoas esperando ônibus que não conseguem entrar nos que já passam lotados, o stress cansativo na cabeça de todo mundo, as pequenas violências diárias que sofrem nos ônibus a mulher, o negro, o idoso, o pobre.

É o cenário da elitização dos espaços centrais da cidade que oferecem uma programação cultural, seja por iniciativa governamental, empresarial ou autônoma. Os shows, os concertos, os espetáculos teatrais, as exposições artísticas, são freqüentados apenas por quem tem alguma forma de chegar onde quiser depois, o que significa aqueles que têm carro, os que moram perto (pelo centro) e os que passarão a madrugada acordados até receberem as boas-vindas de um novo dia, exaustos e aliviados ao mesmo tempo.

Resumindo: o sistema de transporte público de Belém contribui para que o “centro” (os bairros centrais), onde se realiza a maior parte dos eventos culturais, permaneça elitizado, pois os pobres, que geralmente moram nos bairros de periferia, dependem dos ônibus e ao final do dia de trabalho precisam encarar a árdua volta para casa o quanto antes.

Com certeza essa situação não é exclusividade de Belém, pelo contrário, é um sintoma presente na maioria das metrópoles do sistema capitalista. Segregação social. Grupos morando na mesma cidade que abominam a convivência.

Finalmente, estendo esta reflexão para as possibilidades…

E se houvesse transporte público de qualidade durante a madrugada? Será que, assim, muita gente não poderia planejar de uma forma diferente seu dia e torná-lo mais agradável? Não surgiriam mais condições para que todas as pessoas pudessem estar em diferentes espaços da cidade conforme sua vontade, seja no centro ou nos outros bairros, “periféricos”, e não conforme os horários das linhas de ônibus?

E se houvesse mais programações culturais descentralizadas pela cidade?

Será que se pode esperar algo de bom nesse sentido vindo de dentro do sistema político e econômico institucionalizado… sem morrer esperando e frustrando-se?