Posted: November 13th, 2014 | Author: Amazônia em Chamas | Filed under: Mundurukania | Comments Off on Autodemarcação no Tapajós é a resposta aos grandes projetos Hidrelétricos para região
Cansados, após 13 anos de espera pela Fundação Nacional do Índio (Funai), indígenas da etnia Munduruku iniciaram a autodemarcação da terra indígena Sawré Muybu, localizada nos municípios de Itaituba e Trairão, oeste do Pará. O local fica a poucos quilômetros da área prevista para a construção da usina de São Luiz do Tapajós, de 8.040 megawatts.
Com facões, enxadas e auxílio de GPS, adentraram a mata fechada, fincando picos nos principais limites da TI. De forma independente, cercam o território historicamente ocupado pela etnia.
Para dar visibilidade a essa luta tão custosa dos Munduruku, construímos um espaço especial sobre o assunto. Na página Autodemarcação no Tapajós publicaremos conteúdos (textos,vídeos, áudios e fotos) sobre a saga de um povo pelo direito de permanecer na sua terra.
A primeira matéria do blog apresenta a resposta de Ademir Kaba, professor, sociólogo e liderança Munduruku do Movimento Ipereg Ayu, à afirmação leviana do Chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho – responsável pela ponte entre o Planalto e os movimentos sociais. Em entrevista para a BBC, o ministro disse que existe uma equipe do governo na região tentando implementar a Convenção 169, mas há sabotagem por parte de entidades para que isso não aconteça. Ademir o desmente. Para ler entrevista e matéria: “Ele é um canalha”- Liderança Munduruku responde a entrevista de Gilberto Carvalho
Entenda mais
O Relatório Circunstanciado Integrado da terra indígena está pronto desde setembro de 2013 e deveria ter sido publicado no Diário Oficial da União para a continuidade no processo de demarcação, o que não aconteceu. Estava NA MESA da ex-presidente da Funai, pronto para homologação, mas não foi assinado.
Em setembro deste ano a presidente da Funai se reuniu com lideranças do alto e médio Tapajós em Brasília. Como pauta da reunião estava a demarcação da terra indígena Sawré Muyby. Maria Augusta disse com todas as palavras aos indígenas que a publicação do relatório ainda não aconteceu porque o lugar fica “localizado em uma área de empreendimentos” e a Funai junto com outros Ministérios estaria estudando formas de conciliar a demarcação com os empreendimentos hidrelétricos na região.
A conciliação é inviável para os indígenas: “Como que o governo faz barragem e quer dizer que não vai chegar na gente aqui? Estamos demarcando nossa terra aqui. Vamos até o fim da autodemarcação. A gente quer a nossa terra demarcada. A gente não quer barragem”, afirma Juarez Saw, cacique da aldeia Sawré Muybu.
Maria Augusta prometeu que voltaria a se reunir no final de outubro para dar retorno sobre a publicação do relatório aos indígenas, mas abandonou o cargo antes disso sem se manifestar sobre a demarcação.
Devido à morosidade, os indígenas se reuniram e decidiram por conta própria colocar limites no território. “Já é tempo demais de espera pela Funai. A gente sabe que se depender deles essa demarcação não vai sair por causa dessa barragem aí. Então tem que ser nós mesmo”.
A autodemarcação segue sem data para acabar.
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Posted: October 20th, 2014 | Author: Amazônia em Chamas | Filed under: Geral | Comments Off on O que são as Hidrelétricas no Tapajós?
Hoje, o movimento do rio Tapajós está ameaçado pelo projeto chamado Complexo Tapajós, uma das obras financiadas pelo PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento), do Governo Federal. A última fronteira energética da Amazônia, abrirá as “pernas” para a construção de imensas hidrovias, subsidiadas pela exportação de soja do Estado do Mato Grosso e pela exploração de minério em larga escala na própria região, conhecida por suas riquezas minerais.
A construção de um complexo hidrelétrico, composto por cinco grandes usinas no rio Tapajós e mais duas no seu afluente Jamanxim, tem reafirmado, antes de tudo, uma maneira de ocupação e dominação geopolítica de interesses econômicos que ultrapassam um simples projeto de governo, reforçando os laços econômicos do Estado com grandes empresas. A Vale do Rio Doce, por exemplo, já tem licença para exploração na metade do subsolo do Território Indígena (TI) Munduruku. Como se explorar o subsolo não significasse devastar a superfície.
Os Munduruku ocupam historicamente esta região, a conservação e a proteção de toda esta importante área amazônica se deve à forma de ocupação territorial deste povo, de harmonia e respeito aos rios e à floresta em diferentes gerações.
O Complexo Tapajós fere a Constituição Federal em sua essência, pois atinge diretamente as comunidades indígenas e tradicionais. Segundo informações do próprio governo, no mínimo 50 das 118 aldeias Munduruku – além de lugares sagrados para a etnia – serão inundadas pela UHE Chacorão, que será construída próximo à fronteira dos estados Pará e Amazonas.
Posted: October 15th, 2014 | Author: Amazônia em Chamas | Filed under: Geral, Série Eleições e Amazônia | Comments Off on Eleições 2014 e Amazônia – Parte 02
Por Roberta Tavares:
Sobre os comentários fascistas dirigidos aos nordestinos por pessoas do sul e do sudeste brasileiro em detrimento da região nordestina (assim como o Norte) ter sido uma área onde o governo Dilma (PT) obteve um número alto de votos, ou seja nessas duas regiões o eleitorado prefere a política do PT em vez da do PSDB.
Bom, não é de hoje que sabemos do etnocentrismo para não dizer racismo, fascismo, desprezo, ignorância cultural, histórica e geográfica que existe em grande parte da população dessas duas regiões com relação a nós nortistas-amazônidas e aos nordestinos. Isso sem falar ainda no ranço colonialista, que aliás é um outro tema que daria uma tese.
Esse etnocentrismo beira ao analfabetismo geográfico. Como não lembrar das viagens pelo Sudeste e recentemente pelo Sul, e quando falávamos que éramos de Belém alguém logo disparava “ah eu já fui lá na Bahia vocês gostam muito de acarajé né? Nós então pedagogicamente tentávamos alfabetiza-los explicando que não morávamos perto da Bahia, embora gostássemos muito desse estado, éramos amazônidas e que o Pará ficava localizado na região Norte e a Bahia no Nordeste. Devo tristemente contar que por mais que tentássemos ser didáticos, quando dizíamos que éramos amazônidas parece que piorava, alguém ignorantemente sempre confundia a região amazônica com o estado do Amazonas, então tínhamos que explicar que não éramos amazonenses e sim paraenses, que o Amazonas é um dos estados localizados na região amazônica. Triste ter que lhes dizer mais uma coisa: na maioria das vezes eles não entendiam nada e continuavam falando besteiras. E sempre tentamos alfabetizar geograficamente muitos soberbos ignorantes do Sul e do Sudeste, mais é difícil, viu…
Devo dizer que não é a maioria das pessoas nem do Sul e nem do Sudeste que é assim, pelo contrário a maioria que conhecemos tem sim um respeito pelos nortistas e nordestinos e mesmo quando não sabiam muita coisa sobre nossas culturas tinham a disposição de conversar e tentar entender nossas características e diferenças regionais com respeito, o problema é que as pessoas mais ignorantes de fato são as mais barulhentas, as que causam mais alardes.
Mas, voltando a matéria dos insultos aos nordestinos por conta da eleição. Não apoio o PT e nenhum partido da farsa democracia representativa, mais o povo pobre não é passivo como pensam algumas mentes confusas e se o povo pobre nordestino não hesita em escolher o PT em vez dos declarados neoliberais é porque historicamente existe na vida concreta deles motivos simbólicos (e outros mais) suficiente para isso.
R.T
Posted: October 9th, 2014 | Author: Amazônia em Chamas | Filed under: Geral, Série Eleições e Amazônia | Comments Off on Eleições 2014 e Amazônia.
Diante de uma profusão de textos com opiniões e posicionamentos sobre o segundo turno das eleições de 2014, que estão diariamente pipocando nas redes sociais, decidimos postar alguns textos de parceiros e colaboradores do blog AMAZÔNIAemCHAMAS, para que possamos armazenar essas interpretações antes que se percam nas mãos do sr. “facetruque”.
Os texto escolhidos narram diferentes pontos de vista, como os comentários racistas contra os eleitores do PT nas regiões Norte e Nordeste do país; e sobre o rumo que a política governamental está sendo imposta na região amazônica.
Quem quiser mandar outros textos, para serem publicados, que construam essa temática, nos mandem email: amazoniaemchamas@riseup.net
>> Por Lan Lima, acerca das ofensas xenofóbicas de centro-sulistas sobre a vitória da presidenta Dilma Rouseff no Norte e no Nordeste:
Até agora hesitei em dar minha opinião sobre essas eleições por aqui, estava e ainda estou muito pensativa sobre tudo isso, analisando as coisas cuidadosamente, sobre votar, não votar, em quem votar… mas depois de ter lido um comentário de uma desconhecida sobre a distribuição dos votos de cada candidato por estado resolvi me manifestar por aqui. O comentário era o seguinte:
“Norte e Nordeste …..antro d analfabetos e ignorantes !!!Por isso Dilma/ PT sempre, ganha lá!!! Haja bolsa família , miséria e preguiça p/ quererem mudanças!!!”
Infelizmente não me surpreendi em nada com ele, o que não significa que não sou afetada pelo seu conteúdo. Cresci em uma cidade planejada pra abrigar trabalhadores de um grande projeto implantado na Amazônia, sou filha dessa violência. Na época da implantação eram poucos os trabalhadores da região, que eram designados a ocupar os cargos mais baixos na empresa. Os cargos mais altos eram distribuídos entre pessoas da região sudeste, sul e até centro-oeste, que vieram de seus Estados para contribuir com a exploração a todo custo da área, com o etnocídio e o genocídio de sua gente.
Essa lógica de distribuição espelhava, e espelha ainda, a violência, o preconceito, o etnocentrismo, a lógica de exploração indiscriminada e a todo custo… as milhares de contradições envolvidas no modelo de desenvolvimento imposto à região desde que os primeiros pés brancos aqui pisaram. Cresci ouvindo comentários como este, e ainda piores, cresci ouvindo, sentindo e sofrendo de injúrias como e piores do que essas, desde ataques a capacidade intelectual até ataques machistas contra os hábitos amorosos e sexuais das mulheres nortistas, passando pela clássica preguiça.
Isso acontecia e ainda acontece, não raro voltar à cidade e ouvir coisas como essas, sentir na pele a superioridade com que se impõem os que descendem de outras terras, mas vieram pra cá, pq lá não tinham onde mamar, acumularam riquezas e nunca voltaram. Esse tipo de comentário veicula de forma explícita um discurso de ódio, ignorante, homogeneizante, de milhares de pessoas, que sinceramente, nem estão em situação tão melhor e muitas vezes muito pior do que a nossa aqui em cima (pelo menos água ainda temos bastante por aqui).
Digo isso com base nos padrões capitalistas, machistas, racistas que dão bases a tais julgamentos, em que há um padrão, uma meta a ser alcançada de acumulação de bens, de homogeneização e também de idiotização da população, padrões estes indispensáveis ao bem-estar social nesta ordem, propagados nas novelas e telejornais da rede globo – que não por acaso apoia a candidatura de Aécio – entupindo nossos cérebros todos os dias. Fugimos à ordem em vários aspectos, há as formas de transcriação dos enunciados por quem os consome. Somos aptos e multiplicamos as perspectivas, talvez seja este o problema em questão, tendo em vista a ameaça que isso representa à manutenção de uma perspectiva unilateral da existência.
A meu ver não foram estes padrões que levaram Dilma ao segundo turno no norte e nordeste (acho que não sou capaz de dar conta das infinitas motivações, enumero aqui algumas que percebo ao meu redor), mas necessidades reais e básicas supridas minimamente pelo seu governo, e pelo menos pela experiência e contato que tenho com pessoas que nela votaram, pelo terror que um governo do PSDB representa, pela lembrança macabra do que tínhamos 12 anos atrás e digo isso em termos cotidianos principalmente. Cotidiano este de uma riqueza inimaginável, que do alto de seus apartamentos, de dentro de seus carros blindados, com ar condicionado a classe média e alta, inclusive a daqui de Belém, que vi determinada e vestida de amarelo no último domingo nunca vai conseguir compreender e nem quer.
Não votei em Dilma, nem no PT que deu continuidade a essa lógica de dominação na região, que viabiliza e impulsiona a investida do capital, do agronegócio, das hidrelétricas e acoberta o mandonismo, o coronelismo, o messianismo… que ainda hoje catequiza e coloniza a região – vide coligação “Todos pelo Pará”. Não votei e nunca votarei em Aécio e no PSDB pelos mesmos motivos e muitos outros mais.
Sinto-me muito inclinada a nem votar, porque decididamente sou avessa à lógica senil da democracia representativa. Acredito que a política está para além das urnas, é feita também e principalmente no dia-a-dia, está nas resistências diárias, de uma cultura, de uma forma de vida, e disso penso que nortistas e nordestinos sabem muito bem. O que não posso fazer é fingir que não vi, não li, ou que não é também a mim direcionado tal discurso só porque não votei em Dilma. A ignorância e o preconceito vão além dessas eleições e denunciam um país que não sabe de si, completamente intransigente a toda e qualquer forma que tome a diversidade e a própria decadência e falácia da ideia de nação. Ideia essa que está no topo da lista das justificativas que nos dão para aceitar a exploração dos recursos que aqui se encontram (Belo Monte era ou não era interesse nacional?) e da gente que habita e é habitada por eles.
Posted: September 18th, 2014 | Author: Amazônia em Chamas | Filed under: Geral | Comments Off on Professores Munduruku são recontratados
“Foram mais de seis meses de muita luta para os direitos conquistados na constitução que garante o nosso direito no LDB e na resolução 03. Mas o 2° semestre deste mês de agosto, graças a conquista do movimento ipereg ayu, conseguiu recontratação dos nossos professores . Desde já agradecemos a luta do movimento e o MPF, que é o nosso braço direito. Sawe! Sawe! Sawe!” (Carta do Movimento Ipereg Ayu, Aldeia Sawre Muybu, 25 de agosto de 2014)
Em Fevereiro de 2014, 70 professores da etnia munduruku foram demitidos arbitrariamente pela Prefeitura de Jacareacanga, sudoeste do Estado do Pará, sob justificativa de que os mesmos não possuíam educação superior para lecionar. A Prefeitura da cidade se ampara na Lei de Diretizes e Bases (LDB) de 1996 e na Lei Municipal 328/2010, que prevê educação superior para professores que trabalham com educação indígena. Entretanto, a lei municipal que garante a contratação de professores temporários sem nível superior iria acabar no final deste ano.
Os indígenas afirmam que essa ação da Prefeitura de Jacareacanga é um retaliação ao movimento Munduruku Ipereg Ayu, que há anos se posiciona contra os grandes projetos previstos para a região, como o Complexo Hidrelétrico Tapajós e de mineração, e que vem organizando séries de movimentos para que seus direitos sejam respeitados.
Além dos desentendimentos com a Prefeitura, a SEMECD afirma que foi dado um prazo de quatro anos para que os professores indígenas fossem formados no curso técnico-integrado Ibaorebu, coordenado pela Funai, que formaria neste ano 300 indígenas munduruku nos cursos de magistério, agroecologia e enfermagem. “A FUNAI não teria ofertado as disciplinas dentro do prazo, o que atrasou a formação dos professores” (mais informações)
Quando questionado sobre a educação indígena diferenciada, Pedro Lúcio (secretário da SEMECD) afirmou apenas que “a Prefeitura não faz educação indígena, ela faz educação para indígenas”.
É SOBRE ESSE ASSUNTO, QUE O AMAZÔNIA EM CHAMAS LANÇA UM VÍDEO ESPECIAL QUE DISCUTE ESSES ENTRAVES SOB DIVERSAS VOZES DO POVO MUNDURUKU.
“Sabemos como funciona a lei da natureza através dos ensinamentos dos anciãos e como que devemos respeitar. E os animais contribuem conosco por que eles nos ensinam as coisas que não sabemos e podemos interpretar as mensagens que nos transmitem. Isso é muito importante. Por isso nós respeitamos e eles também nos respeitam, é assim que vivemos em harmonia com a natureza. Os animais nos ensinam, nos avisam dos perigos que vão acontecer, seja ela coisa boa ou má. Os não índios diriam que isso é mau agouro, pra nós isso é real.” Jairo Saw Munduruku
A educação formal é apresentada ao povo Munduruku por meio da escola na aldeia Missão São Francisco, hoje conhecida por Missão Cururu. Antes de desenvolver o conceito de uma possível educação munduruku, é preciso ter consciência de que educação é um conceito inserido pelo não-índio. Como bem reforçado pelos próprios indígenas, a educação proporcionada pela escola com professores não-indígenas, institucionalizada e financiada pelo Estado, é um meio de impor mudanças forçadas em seus costumes e crenças, que, segundo ele, tira o indígena do contato diário com os parentes – ao invés de ir plantar roça, por exemplo, a criança passa o dia estudando assuntos que não tem aplicabilidade no seu cotidiano.
Segundo a cosmologia munduruku, os munduruku vivem uma nova fase dos ensinamentos que o Karosaykabu (guerreiro e divindade) iniciou. Agora na ausência do mestre, os Munduruku devem colocar em prática tudo aquilo que ele deixou. Os anciãos ficaram incumbidos da tarefa de transmitir seus ensinamentos. “Essa ausência do Karosaykabu é que faz com que este povo chegue a um novo conhecimento, uma nova educação, uma nova visão do mundo. O próprio Munduruku tentando aprender o mundo da política social do não-indío”, para enfrentar as novas batalhas.
O Ibaorebu é um projeto elaborado em 2007 pelos caciques e professores indígenas de todas as aldeias do TI Munduruku e Sai Cinza, assinado e financiado pela Coordenação de Educação da Funai. Segundo projeto postado na página virtual da antiga Associação Pusuru, o mesmo tem como principal objetivo e desafio a busca pela autonomia da etnia e pela “quebra de paradigma do atual modelo de escola”. O projeto estimula também o diálogo entre saberes tradicionais e o conhecimento técnico, oferecendo três cursos integrados ao Ensino Médio: Agroecologia, Magistério e Enfermagem.
Segundo alunos dos cursos, o objetivo seria o fortalecimento da cultura, já que, durante todo ensino regular implantado nas aldeias polos, o currículo escolar não atendia suas necessidades, seguindo uma estrutura do ensino fundamentalmente não-indígena.
De acordo com o projeto divulgado, os objetivos seriam o de garantir a educação básica baseada nos direitos indígenas e na cultura munduruku e estruturada em eixos integrados da matriz curricular, subdividido em três tópicos: linguagens e comunicação, no contexto das relações entre índios e não-índios; identidade e diversidade na sociedade contemporânea, e o valor e uso dos etnoconhecimentos no contexto atual.
Para atingir tais objetivos, o Ibaorebu tem como metodologia o estímulo da pesquisa integrado ao ensino regular, “buscando a construção de um diálogo com base na interculturalidade e intercientificidade”, desenvolvidos a partir de óptica de cada curso.
Segundo Kaba Swũn, desde o início do curso em 2009, muitos indígenas passaram a se ver de maneira diferente e a valorizar mais a própria cultura. Muitos alunos do Ibaorebu são guerreiros e guerreiras que estão na frente das mobilizações contra o Complexo Hidrelétrico Tapajós.
Posted: September 15th, 2014 | Author: Amazônia em Chamas | Filed under: Geral | Comments Off on Povo Munduruku se posiciona contra projetos hidrelétricos, Por Sue Branford e Nick Terdre
‘Povo Munduruku se posiciona contra projetos hidrelétricos’ Por Sue Branford e Nick Terdre para a BBC Website
Artigo original Aqui
“Se essas hidrelétricas forem construídas, tudo vai acabar” disse Lamberto Painha,um dos caciques do povo Munduruku.” “Aquela vila ali vai ficar inundada,” ele diz. “Macacos, pássaros, índios- todos perderemos nossas casas.” Nos últimos meses, 13.000 índios Munduruku têm protestado contra o plano do governo de construir diversas hidrelétricas que irão inundar parte de suas terras na região do Rio Tapajós.Após uma semana de reuniões em abril, os caciques de mais de 60 aldeias emitiram uma declaração exigindo que o governo lhes ouça antes de dar continuidade às obras das cinco hidrelétricas planejadas para o rio. As mulheres das aldeias não são tradicionalmente guerreiras, mas agora participam da luta. Maria Leusa Kaba Munduruku, uma das lídereres das guerreiras diz que todo mundo precisa estar envolvido. “O governoprecisa reconhecer nossos direitos também, não só os direitos dos outros,” disse Leusa.
Riqueza biológica Apesar da enorme resistência por parte das tribos indígenas e dos ambientalistas, as obras da gigantesca hidrelétrica Belo Monte, no Rio Xingu continuam avançando. Agora a nova fronteira para a expansão das hidrelétricas brasileiras está no Rio Tapajós- grande afluente do Rio Amazonas que fica mais a oeste.
A oposição às hidrelétricas no Rio Tapajós é ainda maior, já que a biodiversidade nessa região é uma das mais ricas do mundo. Adrian Barnett, um biólogo britânico que trabalha na área, diz que – mesmo para os padrões elevados da bacia amazônica – o Tapajós é uma área de extrema riqueza biológica. Das 1.837 espécies de aves brasileiras, 613 podem ser encontradas no Tapajós. O governo pretende leiloar a primeira hidrelétrica, São Luiz do Tapajós, ainda esse ano. Juntamente com a próxima hidrelétrica, Jatobá, deve ser ativada em 2020. Assim como o alagamento de 552km de terra, as barragens vão mudar o fluxo do rio, prejudicando assim a vida dos índios e de diversas comunidades de pescadores. As hidrelétricas terão capacidade de 8.471 megawatts e irão gerar tanta eletricidade quanto a Belo Monte. Sem sentido Para diminuir o impacto ambiental, o governo está copiando o sistema de plataforma de petróleo usado no Mar do Norte. Ao invés de construir mais estradas eles estão trazendo os trabalhadores em barcos para turnos de duas semanas. As autoridades insistem que precisam explorar o enorme potencial hidrelétrico da Amazônia para que o Brasil tenha energia suficiente para alimentar seu ambicioso programa de desenvolvimento. Claudio Salles, diretor do Instituto Acende Brasil, diz que dos 19.000 megawatts adicionais que o governo pretende ter até 2021, 16 mil serão gerados na Amazônia. “Isso te dá uma ideia do tanto que a energia é importante para nós,” disse o diretor. Mas alguns analistas acreditam que o Brasil precisa repensar seus planos de desenvolvimento. Célio Bermann, professor de energia e meio ambiente da Universidade de São Paulo, diz que o Brasil está fornecendo grandes subsídios para os setores que precisam de energia elétrica, como a fundição de bauxita na Amazônia, para a produção de alumínio, sem pensar se isto é realmente interessante a longo prazo para o país. “Estamos exportando uma tonelada de alumínio por $1.450-1.500 enquanto a importação de alumínio fabricado é o dobro do preço.” “Não faz sentido, acho absolutamente desnecessário para o país que a produção de alumínio dobre nos próximos dez anos,” ele acrescenta. O professor também ressalta que o Brasil voltará a ser produtor de bens primários, sem agregação de valor. “É precisamente a produção de bens primários que usa muita energia e gera poucos empregos.” Desejo de evoluir Os trabalhos preparatórios para a construção da hidrelétrica de Teles Pires, que será construída no Rio Teles Pires, afluente do Tapajós, já resultam no desmatamento da região ao redor das Sete Quedas (Sete Cachoeiras) – uma área considerada sagrada pelos Munduruku e outros povos indígenas. Em carta aberta, os caciques Munduruku se queixaram: “Há urnas funerárias lá, onde os nossos antigos guerreiros estão enterrados. Há também um portal, só visto por pajés e líderes espirituais, que podem viajar através dele para um outro mundo, desconhecido.” “Por que eles destruíram isso?” um cacique perguntou. No entanto, para outras pessoas o progresso não pode ser adiado. João Francisco Veira, vereador da cidade de Jacareacanga, disse à BBC: “Os índios não querem voltar 300 anos. Eles querem evoluir, assim como o rio corre para o mar. Eles querem celular. Eles querem internet.” Maria Leusa Kaba Munduruku concorda que querem se modernizar. “Queremos isso mas conservando nossa cultura. Isso é possível e vamos lutar por isso.”
Fotos: Mauricio Torres Video: Nayana Fernandez Tradução: Maria Pacheco Fernandes
Posted: August 5th, 2014 | Author: Amazônia em Chamas | Filed under: Geral, Mundurukania | Comments Off on Governo continua apressadamente projeto de chacina no Rio Tapajós.
Em uma página do governo federal, uma reunião para consulta prévia está sendo chamada para discutir, como diz no texto, os ‘possíveis’ projetos de empreendimentos na região. O texto no documento é o seguinte:
“O governo federal, através da Secretaria-Geral da Presidência da República, realiza nos dias 2 e 3/9, na aldeia Praia do Mangue, município de Itaituba (Pará), reunião com representantes de entidades, aldeias e lideranças do povo Munduruku. O objetivo é apresentar a proposta de consulta aos povos indígenas que vivem na bacia do rio Tapajós sobre possíveis projetos de empreendimentos na região.
Na ocasião será definida a forma que a consulta deve ser realizada, conforme a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de acordo com decisão da Justiça Federal de Santarém (PA). A iniciativa do governo federal visa pactuar um processo que possibilite ampla informação e participação das comunidades que possam ser, direta ou indiretamente, impactadas pelos empreendimentos.”
Aqui está o link.
Esta consulta pública será voltada apenas para área de duas hidrelétricas no plano inicial do complexo Tapajós: São Luiz do Tapajós e Jatobá. A palavra consulta já perdeu o seu significado original, pois, como todos sabem, na região os estudos, planos e acordos para mais este ’empreendimento’ na Amazônia já vem acontecendo a mais de dois anos, como podemos perceber nas reportagens do portal IHU abaixo:
Povos do Tapajós apelam ao STF e ao congresso pela reprovação de MP que diminui unidades de conservação no Pará.
O convite, em seu segundo parágrafo, deixa essa situação bem clara, quando não mostra mais saída nem capacidade de veto, no trecho: “A iniciativa do governo federal visa pactuar um processo que possibilite ampla informação e participação das comunidades que possam ser, direta ou indiretamente, impactadas pelos empreendimentos.” Já apresenta como certo o empreendimento do governo antes de uma decisiva consulta.
Consultas prévias falsas que impõem e ajudam na invisibilização da resistência que há na região?! Permanente processo de imposição de saberes eurocêntricos sobre desenvolvimento, progresso e gestão sobre comunidades que não dependem deste sistema e que se vêm argoladas e sem saída. Pela autonomia da construção destas consultas pelos povos que habitam o Tapajós e serão diretamente afetados na construção de mais algumas UHE’s da morte na Amazônia.
Para saber mais sobre a resistência Munduruku contra os projetos de barragem no rio tapajós, veja em nossa página: Mundurukus x UHES>> Mapeamento (em) processo.
Posted: July 7th, 2014 | Author: Amazônia em Chamas | Filed under: Geral | Comments Off on Indigenas ocupam unidade regional de educação e pedem respeito a educação diferenciada.
Uma comissao de Indígenas da Etnia ka’apor ocuparam hoje (7) a Unidade Regional de Educação (URE) de Zé doca, oeste do Maranhão. A comissão exige o cumprimento de 12 pontos fundamentais para a construção de uma educação digna e diferenciada de acordo com a cultura Ka’apor. Dentre eles, o reconhecimento do centro de formação de saberes Ka’apor, organização e repasse da merenda escolar, construção e reforma de escolas, e o pagamento dos salarios aos professores, atrasados há mais de 2 meses. Segundo Florença Cutrim, gestora da URE, para isso é necessário efetuar o recadastramento dos professores. Agora, a URE e os indigenas correm contra o tempo para trazer os professores das aldeias até a regional em Zé Doca. Os indígenas afirmam que não vão se retirar do local até que as reivindicações sejam atendidas.
De Zé Doca, texto e fotos: Hugo Nascimento – Amazônia em Chamas.
Foto e txt Hugo nascimento – amazonia em chamas – de Zé doca.
Posted: July 2nd, 2014 | Author: Amazônia em Chamas | Filed under: Geral | 2 Comments »
Hoje, 2 de julho, em Presidente Médice, pequeno município no interior do Maranhão, cerca de 150 indígenas da etnia Ka’apor e a Coordenação das Organizações e Articulação dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA) se reuniram para debater os desafios que enfrentam para a manutenção de suas culturas frente aos projetos desenvolvimentistas do Estado e do capital. Os principais pontos debatidos são a defesa do território Ka’apor, ameaçado pelo avanço de madeireiros dentro da terra indígena, homologada em 1989, e a continuidade do Etnomapeamento da TI Alto Turiaçu. Em conversa realizada durante a manhã algumas questões foram levantadas. Além de colocadas as ameaças do agronegócio e da agropecuária aos direitos indígenas, foram pautadas também a importância da união entre os povos como mecanismo de fortalecimento e resistência das etnias em defesa do meio ambiente e do seu modo de vida, bem como a necessidade de educação autônoma diferenciada, e saúde especifica de acordo com a cultura Ka’apor. “Hoje nós fala 100% a língua [Ka’apor], daqui a cinco anos a gente pode perder isso, por isso a importância da educação”, evidencia Yrakajú Ka’apor. A reunião, que segue por tempo indeterminado pretende avançar no planejamento do processo de monitoramento territorial e ambiental, com o etnomapeamento e etnozoneamento, que vendo sendo realizado pelos próprios indígenas e se configura como mais um dispositivo para a proteção do território de 530.000,00 hectares. As estimativas apontam que destes, ao menos 60.000,00 estão devastados pelo avanço das atividades madeireiras.
ft & txt Hugo Nascimento
Posted: May 16th, 2014 | Author: Amazônia em Chamas | Filed under: Geral | 2 Comments »
Entrevista realizada no final do mês de abril de 2014 com professores munduruku sobre a demissão arbitrária da prefeitura de Jacareacanga (PA). Sandro Paigo, Frávio Kaba e Antonio Saw denunciam a perseguição do poder público e a realidade das aldeias que sofrem com 4 meses sem aula.
No mês de fevereiro de 2014, 70 professores munduruku que atuavam na educação básica foram demitidos arbitrariamente pelo poder municipal. A prefeitura culpabiliza a “falta de formação” dos professores, mas despreza as resoluções nº 3 e 5 do Conselho Nacional de Educação, que garante a permanência de professores indígenas por formação de serviço.
No dia 10 de março, cerca de 70 professores decidiram trancar a Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto (SEMECD) de Jacareacanga. Saíram do local sem obter resposta.
Em maio, com muitas escolas ainda sem atividades, os munduruku decidiram, no dia 5, manifestarem-se novamente.
Na manhã do dia 13 aproximadamente 500 garimpeiros, comerciantes e membros do Poder Público, incluindo o próprio secretário de assuntos indígenas da cidade, atacaram 20 munduruku na manhã desta terça, 13, durante ação contra a presença dos indígenas no município. Dois munduruku acabaram feridos nas pernas depois de atingidos por rojões lançados pelos manifestantes anti-indígenas.
Os munduruku seguem lutando pelos seus direitos e pelo seu território.
Leia a IX Carta do Movimento Munduruku Ipereg Ayu
http://amazoniaemchamas.noblogs.org/p…
Mais informações
http://reporterbrasil.org.br/2014/03/…
http://www.xinguvivo.org.br/2014/05/0…
http://cimi.org.br/site/pt-br/?system…